4 anos do maior vexame jornalístico das Copas: a entrevista de Conti, colunista da Folha, com o sósia de Felipão

Atualizado em 19 de junho de 2018 às 8:55
Mario Sergio Conti e o sósia de Felipão: loucura, loucura, loucura

Hoje é o aniversário de quatro anos da maior barriga — jargão jornalístico para burrada — da história das Copas.

O simpático, carismático e atento Mario Sergio Conti, colunista da Folha, tomou Wladimir de Castro Palomo, ator, por Felipão, técnico da seleção brasileira, num voo do Rio de Janeiro para São Paulo.

O ex-diretor da Veja publicou seu papo furado com Palomo como se se tratasse de Luiz Felipe Scolari.

“Não houve maldade, em nenhum momento eu disse que era o Felipão ou que estava dando entrevista”, disse Palomo ao jornal mais tarde.

“Eu achei que ele tinha entendido que eu era o sósia do técnico quando dei meu cartão, em que está escrito sósia”.

Noves fora tudo, Conti achou normal cruzar Felipão num avião de carreira em plena Copa do Mundo.

“Foi um erro, eu achei que era o Felipão; mas não houve má-fé e pelo menos esse erro não prejudicou ninguém, nem influenciou a eleição ou derrubou a Bolsa”, justificou Mario Sergio, atualmente apresentador de um programa na GloboNews.

Em homenagem a este grande momento da crônica esportiva, o DCM reproduz o encontro dos dois piadistas:

“O problema do Brasil é a zaga”, diz Felipão

Neymar e Luiz Felipe Scolari foram os últimos passageiros a embarcar no avião, às 17h30 de ontem. Como voo da ponte-aérea, do Rio para São Paulo, estava lotado, ambos se espremeram em poltronas entre passageiros, Felipão na 25E e Neymar na fileira da frente.

“Vê se dorme, moleque”, disse o técnico ao jogador. Neymar desligou o celular, mas não dormiu, apesar de apenas um passageiro ter-lhe pedido um selfie durante o voo. Tampouco Felipão pregou o olho. Um tanto apreensivo com o céu carregado, ele respondeu de bom grado tudo que lhe foi perguntado.

“Acho que, até agora, os melhores times foram a Holanda e a Alemanha”, disse. “Eles vão dar trabalho. A Itália também. Ela sempre chega às semifinais. É como o Brasil: tem tradição, empenho, torcida”.

O zero a zero com o México não o abalou: “Pode ter sido até positivo, na medida em que jogou um pouco de água fria no oba-oba, na ideia de que é fácil ganhar uma Copa”. Num campeonato de nível tão alto, ele acha imprevisível fazer prognósticos. “Quem diria que a Espanha sairia da Copa logo de cara?”, indagou.

O mesmo raciocínio ele aplica à seleção sob a sua responsabilidade. “O Oscar fez uma excelente partida na estreia, mas não foi bem no segundo jogo”, disse, mastigando um salgado de gosto insosso. “O Neymar foi bem, mas não teve a genialidade da partida anterior. São coisas que acontecem. E quem esperaria que o goleiro mexicano defendesse todas?”

“Felipão concordou com o raciocínio que Neymar parece mais centrado agora do que antes, não se joga tanto no chão nem faz demasiado teatro:”

“É verdade, ele está mais objetivo. Mas pode melhorar ainda mais. Não dá para apressar muito esse processo: ele é muito moço, tem que aprender as coisas na prática”. Mas não tem dúvidas: “se tivéssemos três como ele, ao Copa seria uma tranquilidade”.

O avião deu solavancos e o técnico comentou: “isso sim é que é um especialista, repare como o piloto conduz o avião com mão firme, fazendo mil coisas ao mesmo tempo”. O que seria mais difícil: pilotar um avião ou a seleção nacional? “Não tem comparação, avião é muito mais difícil. O piloto lida com vidas humanas, é responsável por elas. Se a seleção perder, será muito triste para o Brasil, para os jogadores, a minha família e eu. Mas ninguém corre risco de morte”.

Felipão se disse satisfeito com o ambiente geral da Copa. Não esperava que tantos mexicanos e chilenos viessem, nem que as torcidas se confraternizassem. “Até os argentinos estão se dando bem com os brasileiros. Pelo menos até agora”. Disse que os estádios são bons e a organização dos jogos funciona. “E te digo: tive dúvidas, mas os aeroportos onde estive até agora estão uma maravilha”.

Contou que ninguém do governo o procurou, em momento algum. E ouviu com agrado o relato de meu encontro recente com um ministro, seu fã atilado. “Pelo que ouço dizer, o governo está torcendo pela seleção, e a oposição nem tanto”, disse. “Acho uma bobagem misturar futebol e política. Eu mantenho essa separação custe o que custar, não dou uma palavra sobre política”. Os xingamentos A Dilma no jogo de abertura, portanto, não lhe dizem respeito.

Perguntado se lia comentários de especialistas nos jornais, ou ouvia o que diziam na televisão, Scolari sorriu: “Até papagaio fala”. Ao ouvir os nomes de alguns, ex-jogadores e ex-técnicos, repetiu, divertido: “Papagaio fala!”.

Felipão terminou de tomar a caixinha de suco de laranja e se se explicou melhor: “os comentários são necessariamente frios, distantes. A experiência de jogar no Maracanã lotado, de cobrar um pênalti, de ouvir vaias, são coisas que mexem com o jogador, com o indivíduo. Não é questão de aplicar uma receita”. Para ele, as variáveis envolvidas numa partida são inúmeras, não é possível reduzi-las ou quantifica-las.

Deu como exemplo a seleção da Alemanha: “Ela está na Bahia, no sol, entre mulatas lindas. Claro que isso os influencia”. Felipão riu7 de novo: “Desconfio que alguns deles nem voltarão para a Alemanha”.

Se não acompanha os comentaristas da imprensa, ele está ciente de dificuldades táticas e de entrosamento na seleção. “O principal problema é a zaga”, disse. “Ela cai para o lado, quando deveria ir em frente, buscar o jogo lá na frente”.

O que mais o irritou até agora foram os boatos, divulgados pela imprensa europeia, que o Brasil já ganhou a Copa, já que a Fifa teria orientado juízes a facilitarem a vida da seleção. “Mais que um absurdo, é um desrespeito. Você imagina comprar a Itália, a Alemanha? Isso não existe”. O avião sobrevoava São Paulo, coberta por nuvens. “É como descer a serra de Santos com um nevoeiro fechado, sem enxergar nada”, disse. “Esse comandante sabe tudo”.

Neymar e o técnico tinham participado da gravação do programa “Zorra Total”, no Projac, o estúdio da Globo em Jacarepaguá. “Não gosto de passar muito tempo longe de São Paulo: veja que cidade interessante”, apontou.

Felipão estava curioso em saber como seu filho se saíra numa prova naquele dia. Ele estuda Economia nas Faculdades São Judas Tadeu, e pegara uma recuperação. “Mas o garoto vai bem, é estudioso”.

Perguntei se toparia dar uma entrevista ao programa “Diálogos”, da GloboNews. “Claro, vamos lá. Só que ando meio ocupado…”, disse, rindo. Pegou sua carteira, tirou um cartão de visitas e me entregou, afirmando: “Mas isso pode te ajudar por enquanto”.

O cartão de visitas dizia: “Wladimir Palomo – Sósia de Felipão – Eventos”. Depois das gargalhadas, apertou a mão e disse: “Deus te proteja”.