
Uma vez um velho sábio disse: “Nascemos sozinhos e iremos embora desta vida do mesmo jeitinho”. Os dilemas do longa “Ataque dos Cães” permeiam os clássicos de western na essência, mas não no formato.
As rudes relações de preconceito e homofobia, em um mix delicado de perversão e utilitarismo, dão o tom da trama: um tempo diferente nas cenas e enquadramentos.
Muito sofisticado na fotografia e uso constante na edição de sombras e closes. Os silêncios chamam a atenção, além da trilha sonora minimalista, nada heroica e muito bem pontuada.
Como mencionado, o filme tem um ritmo pausado e reflexivo para os padrões hollywoodianos.
Por conta disso, tem boas chances para o Oscar nas categorias melhor filme e direção. A diretora neozelandesa Jane Campion se tornou a favorita no último sábado, em festejos glamourosos em Los Angeles, quando seu filme foi eleito o melhor pelos diretores mais influentes de Hollywood.
O desempenho de seu protagonista atormentado, personagem muito rico e contraditório, em interpretação vigorosa de Benedict Cumberbatch, tem triângulo e conflito emocional entre ele, cunhado, a mãe (Kirsten Dunst) e filho (Kodi Smit-McPhee), dando significado aos complexos de Édipo e Electra vestindo botas de cowboy.
Um típico durão em suas pantalonas de couro, em debate constante com seus fantasmas e desejos enrustidos, dando margem a imperfeição e contradição mais que evidente desse prototípico macho alfa, em seu cavalgar seguro e rígidas posições corporais.
Em certos momentos parece caricatura proposital na condução da diretora, quase um boneco, por tanta rigidez exposta.
Vale assistir pela diferença colossal no trabalho cinematográfico (planos bem elaborados, fotografia & locações deslumbrantes) em contraponto ao lixo despejado diariamente pela indústria do cinema de massa.
Mas o grande recado é este: chegamos aqui sozinhos e partiremos assim também.
* Título Original: The Power of the Dog
* Duração: 128 minutos
* Ano produção: 2021
* Distribuidora: Netflix
* Dirigido por: Jane Campion