Lula está coberto de razão ao pôr o aborto em pauta agora

Atualizado em 7 de abril de 2022 às 11:41
Lula discursa
Lula defendeu que aborto vire questão de saúde pública

Lula está coberto de razão ao falar de aborto. Os “cálculos políticos” no sentido contrário são covardes ou de quem quer ensinar o Padre Nosso ao vigário.

Progressistas estão criticando o ex-presidente por motivos os mais diversos, todos diversionistas. “Não é o momento”; “Deu munição ao inimigo”; “O povo brasileiro é conservador”; “Tiro no pé”. Etc etc.

Ora. O momento é criado, não surge no vento. Se for para esperar uma circunstância melhor, ela nunca aparecerá. 

“Eu tenho cinco filhos, oito netos e uma bisneta. Eu sou contra o aborto. O que eu disse é o seguinte: é preciso transformar isso em uma questão (de saúde) pública”, disse ele ao Jornal Jangadeiro, da Band News FM, do Ceará.

“As pessoas pobres, que são de vítima do aborto, têm que ter condição de se tratar na rede pública de saúde. É só isso. Mesmo eu sendo contra o aborto, ele existe”.

Sim, ele existe. Lula está pautando o debate. Não é possível ficar a reboque de Bolsonaro. É hora de entrar de cabeça num tema fundamental.

O Brasil vive refém de um tabu baseado em achismo e em algo aparentemente imutável pelos próximos milênios. Por que só nós? Argentinos, chilenos, colombianos são liberais e andam pelados nas ruas? Também são de maioria católica, com avanço evangélico, de formação similar à nossa e, no entanto, encararam o tema.

“Bolsonaristas vão fazer a festa”, falam os de sempre. “A mídia vai deitar e rolar”. 

Essa turma já bate em Lula de qualquer maneira, seja lá o que ele pensa ou deixa de pensar. Ele está montado em pesquisas que lhe permitem abordar essa agenda. Agora é a hora. 

No primeiro semestre de 2020, mais de 80 mil mulheres foram atendidas pelo SUS em todo o país em razão de abortos malsucedidos, provocados ou espontâneos. O total é 79 vezes maior do que o de interrupções de gravidez previstas pela lei no período: 1.024 abortos legais realizados à época.

É emergência. É urgente. Há pânico e moralismo disfarçado entre “progressistas” que se recusam a discutir essa tragédia nacional.

Se uma certa esquerda defendesse as teses propostas por Lula como tem defendido Putin, não estaríamos nesse enrosco.