Por que Bolsonaro e a extrema-direita estão exultantes com a compra do Twitter por Elon Musk

Atualizado em 25 de abril de 2022 às 20:47
Elon Musk com Donald Trump

A extrema direita está soltando rojões com a compra do Twitter por Elon Musk pelo valor de US$ 44 bilhões (cerca de R$ 215 bilhões).

Bia Kicis e Eduardo Bolsonaro, entre outros, estão exultantes. O Zero 3 comentou: “Good vibes” (“Boas vibrações”). Bia Kicis foi menos lacônica: “A compra do Twitter por Elon Musk é um importante passo na luta pelas liberdades. Os globalistas estão em cólicas.”

Jair Bolsonaro compartilhou um tuíte de Musk em que ele fala a seguinte patacoada: “Espero que até meus piores críticos permaneçam no Twitter, porque é isso que significa liberdade de expressão”. Luciano Hang entrou na festa.

Ana Paula do Vôlei, musa negacionista da Jovem Pan, compartilhou um desenho idiota de um passarinho sendo libertado da gaiola pelo empresário.

A expectativa é que a indústria de fake news terá mais um escoadouro para as milícias digitais.

Musk, o homem mais rico do mundo, avisou que quer ser “muito cauteloso com proibições permanentes” de usuários – um sinal de potencial retorno de Donald Trump à plataforma.

Nos EUA, deputados republicanos comemoram. Darrell Issa, da Califórnia, disse que Musk “poderia levar a empresa a uma direção muito melhor” para redimir aqueles foram “injustamente silenciados ou censurados pelo ataque do Twitter à liberdade de expressão conservadora”.

O fundador Jack Dorsey e o CEO Parag Agrawal declararam que pretendiam manter a suspensão do perfil de Trump. Musk sinaliza em sentido contrário. Ele é contra “banimentos permanentes”.

Trump tem lutado para encontrar um substituto para o Twitter e o Facebook, de onde foi suspenso por dois anos. A alternativa que ele lançou, chamada Truth Social, falhou miseravelmente em atrair sua base.

Antes da notícia do interesse de Musk, o próprio Trump disse que “provavelmente não teria nenhum interesse” em retornar. “O Twitter se tornou muito chato. Eles se livraram de muitas vozes conservadoras”, afirmou.

Um ex-assessor do ex-presidente americano, porém, contou ao site Politico que o chefe voltaria “num piscar de olhos”. “O Twitter era o seu megafone e sua forma de dominar a imprensa”, disse. “Era a sua forma de disseminar informações, alfinetar os adversários e se conectar com a sua base”.

Essa conversa mole de livre expressão não encontra respaldo na realidade dos bolsonaristas. O governo usa a Lei de Segurança Nacional contra opositores, de jornalistas a organizadores de shows. Jair e filhos processam quem lhes desagrade. Carlos Bolsonaro, para ficar num exemplo recente, está acionando Fábio Porchat na Justiça.

Evan Greer, diretor da ONG de direitos digitais denominada Fight for the Future (“Brigue Pelo Futuro”), chamou Musk de “uma distração épica e talentosa” de um problema maior: que apenas algumas empresas controlam as Big Techs.

“Há muita concentração e precisamos de um mundo onde a mídia social não seja estruturada de modo que uma pessoa possa ter um tremendo impacto sobre a capacidade das pessoas de se expressarem – ou não – neste espaço”.