Dráuzio critica Bolsonaro e faz sugestão para diminuir a fome no Brasil

Atualizado em 12 de junho de 2022 às 11:38
Drauzio
Dráuzio Varella. Foto: Reprodução/YouTube

No sábado (11), durante um debate da feira do livro de 2022, o médico oncologista e colunista da Folha Dráuzio Varella subiu ao palco, acompanhado pelo vereador Eduardo Suplicy (PT), instalado no centro da Praça Charles Miller, e afirmou que o presidente Jair Bolsonaro (PL) e seu ministério da Saúde agravaram a situação da pandemia no país ao realizarem um “ativismo em favor da disseminação” da Covid-19.

“Quase 700 mil mortes, das quais grande número foi desnecessário. Pagaram com a vida a irresponsabilidade dos nossos dirigentes”, disse ele ao participar de uma mesa na Feira do Livro, no Pacaembu, a repórter da Folha Cláudia Collucci.

Suplicy carregava um exemplar de “O Exercício da Incerteza”, autobiografia do oncologista recém-lançada pela Companhia das Letras. O livro foi uma das pautas do médico, que contou que a ideia nasceu do convite de sua turma de faculdade para ser orador numa cerimônia. Formulou então um discurso em que refletia sobre a mudança da medicina nas últimas décadas e o impacto disso sobre a vida dele e dos colegas. “Nós vivemos uma nova medicina”, percebeu. “Aproveitei aquele momento e o isolamento pandêmico para expandir essa reflexão.”

Sobre a pandemia, Dráuzio teceu várias considerações. Primeiro, comparou-a com a epidemia da Aids nos anos 1980. Depois, apontou a relevância do SUS, o Sistema Único de Saúde, descrevendo-o como “uma revolução” cuja magnitude não se repetirá nos próximos cem anos.

Ele afirmou que o coronavírus criou um entendimento novo na medicina. Isso porque o vírus tem gerado variantes mais transmissíveis, e com muita velocidade. “Entrou em lugar fechado, põe máscara”, alertou ele, suscitando palmas da plateia.

Dráuzio não limitou a mesa à Covid, no entanto. Questionado sobre a situação da Cracolândia, ele expandiu a questão para refletir sobre soluções políticas para a dependência química e a criminalidade.

“Depois que a situação está estabelecida, não tem solução rápida”, disse o médico, citando exemplos de políticas municipais prévias que em sua opinião foram “respostas simplistas e ineficazes”.

Segundo Dráuzio, o problema da Cracolândia é um reflexo da desigualdade de renda no país. “Não dá para viver aqui e querer que não tenha usuário de crack, que não tenha furto de celular”. O médico ainda abordou a fome no Brasil, que segundo levantamento recente atinge hoje 33 milhões de pessoas, mais do que 30 anos atrás. “Para tudo! Nós temos que resolver agora esse problema!”, exclamou, ouvindo mais aplausos da plateia em resposta.

Foi naquele momento que o colunista lembrou do fundo Todos pela Saúde, criado pelo banco Itaú a partir de um aporte de R$ 1 bilhão para o combate da Covid. “Por que não construir algo semelhante para a fome?”, indagou. “Com a solidariedade da iniciativa privada e do governo… Mas dá para esperar solidariedade de um governo desses?”, prosseguiu, levantando mais aplausos do público.

Ao falar sobre a criminalidade, o médico defendeu que o encarceramento em massa não é uma solução. Segundo ele, que por anos atendeu a população carcerária do Carandiru, na zona norte paulistana, os jovens viram “presa fácil” do crime organizado ao ficarem presos nos meses em que aguardam julgamento. “Nós criamos o crime organizado com o massacre do Carandiru, e nós o mantemos com o exército de moleques que colocamos dentro das cadeias”, disse.

Outra preocupação do médico são os cigarros eletrônicos, segundo ele uma nova maneira encontrada pela indústria do tabaco para viciar crianças. “Eles colocam essências de menta, maçã, morango, chocolate, com esse único objetivo. É gente de terno e gravata, com estudos de mercado debaixo do braço.”

Drauzio também comentou sua fama. Segundo ele, alcançar o status de celebridade já na maturidade facilitou lidar com as responsabilidades públicas de “aparecer na televisão todo domingo na casa dos brasileiros para falar de saúde”.

​A programação da Feira do Livro se estende até domingo (12/06), com mesas literárias dispostas entre dois espaços: o Palco da Praça e o Auditório Armando Nogueira.