
O líder indígena cacique Raoni Metuktire lançou na última sexta-feira um manifesto contra o marco temporal e afirmou que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) incentivou de uma “maneira muito forte as pessoas a matarem os indígenas, dizendo ‘se o indígena atrapalhar, mate ele'”.
A declaração ocorreu durante o encontro batizado de Chamado do Cacique Raoni Metuktire, que levou mais de 700 indígenas à aldeia Piaraçu, na Terra Indígena Kapot/Jarina, em Mato Grosso. Na primeira edição do evento, em janeiro de 2020, Raoni havia convocado lideranças para darem uma resposta de união frente ao governo Bolsonaro.
Durante a reunião, o cacique falou da ameaça do marco temporal, que pode restringir a demarcação de terras a territórios ocupados pelos indígenas antes de 5 de outubro de 1988, o que segundo Raoni seria uma grande violação. A tese segue em análise no Supremo Tribunal Federal (STF), que retomou o debate em junho, posteriormente suspenso por um pedido de vista do ministro André Mendonça.
“O marco temporal ignora nossa memória e história por ações de colonizadores, latifundiários e empreendimentos econômicos de deslocamentos forçados, violências, massacres e expulsões vividos em nossos territórios tradicionais, o que resultou em perdas irreparáveis para nossas culturas e modo de vida”, afirma Raoni no manifesto, assinado por mais cinquenta lideranças.
O movimento indígena diz concordar com o voto dado pelo ministro Alexandre de Moraes na retomada do julgamento, mas discorda do pagamento de indenização.
“Não consideramos justo compensar pessoas e empresas que são responsáveis pelo assassinato de nossas lideranças e massacre do nosso povo que historicamente lutam pelo nosso território. Nós é que deveríamos ser indenizados pelos anos de violências vividos e por receber uma terra devastada”, diz a carta.
“Por tempos imemoráveis, nós Povos Indígenas, temos sido guardiões e guardiãs das florestas, dos rios, do ar e dos animais das terras por onde nossos ancestrais caminharam. Essas terras representam não apenas nosso lar, mas também nossa identidade cultural, nossas tradições, ciência, que sempre existiram de forma conjunta e equilibrada com a natureza. É fundamental compreender que a posse dessas terras não se trata apenas de um aspecto material, mas de um elemento essencial para a nossa existência”, diz o manifesto.