“Sobreviver à violência política dói”, diz jornalista perseguido por Zambelli após execução de médicos

Atualizado em 5 de outubro de 2023 às 16:06
Carla Zambelli com arma apontada para o jornalista Luan Araújo Foto: Reprodução

Acordei nesta quinta-feira (5) devastado, como muita gente, com a notícia do assassinato de três médicos ortopedistas em um quiosque na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio de Janeiro.

O choque aumentou quando vemos que uma das vítimas era Diego Ralf Bomfim, irmão da deputada federal Sâmia Bomfim (PSOL-SP) e cunhado do também deputado Gláuber Braga (PSOL-RJ).

Todos sabem que estive sob a mira de armas e tiros após uma discussão política na véspera do segundo turno das últimas eleições presidenciais, em outubro do ano passado.

E, numa esperança ingênua, eu diria, esperava que casos como o que aconteceu comigo servissem de incentivo para que o pessoal se tocasse que o ataque armado e a morte não fossem as soluções. O Brasil, com destaque especial para alguns estados, como o Rio de Janeiro, mostram que não.

Ainda não se sabe se o crime bárbaro e cruel tenha motivação política. Mas sabemos bem o modus operandi de quem atua ali naquela região da capital fluminense.

E o brutal assassinato de Marielle Franco, em março de 2018, ainda reverbera, ainda não tem solução e cada vez mais aponta para essa motivação.

O jornalista Luan Araújo, que foi perseguido pela deputada Carla Zambelli (PL)
Foto: Reprodução/G1

Dito isso, como sobrevivente de um ato de violência política, acordar hoje, com a notícia de um assassinato tão brutal, dói. Ativa gatilhos inimagináveis em quem sobreviveu e ainda tem certo medo de fazer as coisas normais da vida, como ir a um quiosque de praia ou um bar e tomar uma cervejinha, como aqueles quatro médicos respeitados e renomados (um sobreviveu) na área estavam fazendo. Vai lá saber o que tão planejando fazer comigo ou com minha família, sabendo que ainda estou aqui?

O que posso falar no momento é desejar toda força às famílias das vítimas, em especial ao casal Sâmia e Gláuber. Que eles não se sintam culpados pela perda do ente querido. Eles lutam dia após dia por um país mais humano, mais seguro e mais amável para todos nós. E merecem todo o acolhimento do mundo neste momento tão difícil.

O projeto de morte da extrema-direita foi superado nas urnas com muito sofrimento no ano passado. Mas a ideia de morte, a ideia de intolerância e do medo continuam. Vamos demorar para superar isso.
E, para isso, quem comete crimes do tipo deve ser punido exemplarmente e isso deve ser amplamente divulgado. Estamos cansados de viver sob a mira do medo apenas por nossas convicções.

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Luan Araújo
Jornalista formado em 2012, morador da periferia da Zona Leste de São Paulo, sambista e corintiano.