
A atual seca que assola a região amazônica alcançou um marco alarmante nesta segunda-feira (16), quando o Rio Negro atingiu seu nível mais baixo em 120 anos de registros em Manaus. Os dados do Porto de Manaus, considerados pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), apontam a marca de 13,59 metros, ultrapassando o recorde anteriormente estabelecido em 2010, com 13,63 metros.
Em entrevista para a Folha de S.Paulo, o climatologista e pesquisador do Inpa, Renato Senna, alertou para a possibilidade de que o nível do rio continue a diminuir, refletindo a tendência histórica das grandes secas da região, que se prolongam até o final de outubro e início de novembro.
Os efeitos dessa estiagem sem precedentes estão alterando drasticamente o cenário e o cotidiano das comunidades ribeirinhas e urbanas que dependem do Rio Negro. A Marina do Davi, ponto de partida para praias fluviais e comunidades vizinhas, testemunha o desamparo das embarcações, outrora ativas em suas funções, agora encalhadas em terra seca e inúteis para a navegação.
A realidade nas comunidades e praias afetadas é marcada por relatos de isolamento, lama e escassez. A crise hídrica não se limita a Manaus, estendendo-se a outras regiões da Amazônia. Igarapés secos no médio Solimões forçam os moradores a percorrerem longas distâncias em busca de água potável. As Terras Indígenas Porto Praia de Baixo e Boará/Boarazinho enfrentam a falta de água e o impacto devastador na vida selvagem local.
A preocupação com o ecossistema atingiu um novo nível com a necessidade de proteger os botos vermelhos e tucuxis da escassez de alimentos e água em Tefé. A situação se agrava com a morte de mais de 140 animais devido às altas temperaturas da água, chegando a atingir 39 graus Celsius.

Essa crise não se restringe apenas ao Rio Negro, com relatos similares nas regiões do alto Solimões e do rio Madeira, resultando até na suspensão das operações da usina hidrelétrica Santo Antônio, uma das maiores do país. Medidas urgentes se fazem necessárias para enfrentar essa situação sem precedentes, preservar a vida selvagem e garantir o bem-estar das comunidades afetadas.
A falta de chuva tem preocupado a população manauara também pela qualidade do ar. Na quarta-feira, a cidade esteve marcada como o segundo pior lugar do mundo para se respirar, segundo o World’s Air Polution, que monitora a qualidade do ar pelo planeta. A situação chegou ao limite pela combinação da falta de chuva, secas nos rios e queimadas ilegais no entorno da cidade.