
Coordenador do Grupo Estratégico de Combate aos Atos Antidemocráticos da Procuradoria-Geral da República (PGR), o subprocurador-geral Carlos Frederico dos Santos considera que a delação de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), inclui somente “narrativas” do militar.
Ele ressaltou ser necessário aprofundar as investigações para que elas resultam na apresentação de denúncia contra o ex-madantário. O coordenador, no entanto, evitou desqualificar a atuação da Polícia Federal (PF).
“Quando nós temos um acordo de delação, tudo que é dito precisa ser corroborado. Eu não posso dizer que uma peça dessa será proveitosa se isso não acontecer. Não faço críticas à PF nem a quem firmou o acordo, mas meu olhar é do órgão acusador e, nessa perspectiva, pode afirmar que ali há só narrativas e não há robustez para o oferecimento de denúncia”, afirmou em entrevista ao jornal O Globo. “Então, diante de não haver isso, ela é fraca. Mas ressalto que isso não é falha no trabalho de ninguém”.
Em um dos trechos da delação, Cid afirma que Bolsonaro participou diretamente da discussão a respeito da elaboração de um decreto golpista. De acordo com o militar, o ex-capitão pediu alteração em uma minuta de documento que determinava a prisão de autoridades e a realização de novas votações no país.
“O delator que se propõe a firmar esse tipo de acordo não basta possuir uma narrativa, ele tem que apontar os participantes de um crime e apontar, pelo menos, os caminhos até as provas para confirmarmos aquilo que ele falou. Por isso, há diversas decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) anulando esses acordos porque as acusações se basearam tão somente nas delações”, ressaltou Carlos.

Carlos destacou ainda que, em nenhum dos temas mencionados na delação, o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro apresentou algum tipo de comprovação sobre os fatos expostos na delação. Santos classificou a delação de Cid como “fraca”.
Santos, entretanto, garante ter solicitado novas diligências a fim de corroborar os supostos crimes descritos no acordo de Cid com PF “Requisitei várias coisas, mas não posso falar sobre isso justamente para não frustrar a investigação. Não jogo provas fora, então eu quero dar valor a essa delação para que eu possa utilizá-la”, afirmou.
Vale destacar que, desde o início, a PGR foi contrária ao acordo de delação firmado entre o tenente-coronel e a PF, argumentando que não cabe à corporação assinar tal tipo de colaboração.
Além disso, investigadores da PF veem o Ministério Público Federal (MPF) “jogando contra” a delação de Mauro Cid. A avaliação ocorre após Carlos Frederico Santos ter afirmado que o depoimento do militar “é fraco”.