
Uma das atrações do cruzeiro “Ney em Alto Mar”, organizado pelo atacante Neymar Jr., conhecido por seu apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), foi o cantor Oruam. Além de sensação no trap carioca, Oruam é filho de Marcinho VP, um dos líderes da maior organização criminosa do Rio, o Comando Vermelho.
Curiosamente, o parentesco entre Oruam e Marcinho VP parece não ter sido relevante para Neymar. O fato em questão cria uma situação no mínimo contraditória, já que o jogador é conhecido por seu bolsonarismo.
Quando da morte da ex-vereadora carioca Marielle Franco, a extrema-direita usou a imagem do pai de Oruam para tentar “justificar” seu assassinato, em 2018.
“A heroína da Rede Globo Marielle Franco; antes de ser lésbica, sempre teve envolvimentos amorosos com os chefões do tráfico; e vários traficantes em geral, ajudaram a financiar sua campanha para vereadora”, afirmava uma das fakes news disseminadas nas redes.
Posteriormente, foi comprovado que nem o homem na fotografia era Marcinho e nem a mulher era Marielle.

MBL e bolsonaristas participaram da disseminação da fake news
O empresário Carlos Augusto de Moraes Afonso, ligado ao Movimento Brasil Livre (MBL), foi um dos que participou na disseminação da imagem na tentativa de “manchar” o legado de Marielle.
Nas redes, Carlos utilizava o pseudônimo de “Luciano Ayan”, a fim de evitar ataques ao seu nome verdadeiro. O empresário, que foi preso em 2020 acusado de desviar mais de R$ 400 milhões de empresas, coordenava uma página acusada de disseminar fake news contra a vereadora.
A página Ceticismo Político, gerida por Carlos, foi tirada do ar em março de 2018 pelo Facebook, época em que Afonso assumiu a autoria dos textos contra a vereadora assassinada.
Um dos textos feito por ele, que levava o título “Desembargadora quebra narrativa do PSOL e diz que Marielle se envolvia com bandidos e é ‘cadáver comum’”, recebeu mais de 360 mil compartilhamentos no Facebook, tornando-se uma das principais publicações falsas contra a vereadora.
Nas redes sociais, o MBL costumava compartilhar conteúdos do Ceticismo Político e já publicou textos assinados por Luciano Ayan.

A desembargadora Marília de Castro Neves, do Tribunal de Justiça do Rio, também replicou o conteúdo, mas voltou atrás, admitindo que era falso.
Segundo levantamento do Laboratório de Estudos sobre Imagem e Cibercultura (Labic), da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), que já fazia o monitoramento de boatos envolvendo o nome da vereadora após sua morte, mais de 4.000 pessoas se engajaram com o conteúdo, o que gerou mais de 360 mil compartilhamentos só no Facebook. O assunto acabou ocupando o primeiro lugar entre os mais falados naquele dia na rede social.

O deputado Alberto Fraga (PL) também foi um dos bolsonaristas que compartilhou a fake news na época. No post, Fraga escreveu que Marielle teria sido alçada ao posto de “mito da esquerda” e que, na verdade, teria relação com o tráfico e o consumo de drogas.
“Conheçam o novo mito da esquerda, Marielle Franco. Engravidou aos 16 anos, ex esposa do Marcinho VP, usuária de maconha, defensora de facção rival e eleita pelo Comando Vermelho, exonerou recentemente 6 funcionários, mas quem a matou, foi a PM”, disse.
Após a identificação de que se tratava de informação fraudulenta, Fraga chegou a desativar seus perfis nas redes sociais. Posteriormente, o parlamentar retornou com as redes e realizou uma publicação falando sobre o incidente.
“O arrependimento, talvez, é em ter colocado algo que eu não tenha checado, que não tenha uma informação. Por eu ser um policial, um coronel da polícia [Militar do DF], eu deveria ter tido uma informação mais consistente, de uma fonte idônea”, afirmou Fraga à TV Globo.
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