Wanessa Camargo, o BBB e o privilégio da mulher rica sobre o homem negro. Por Luan Araújo

Atualizado em 27 de janeiro de 2024 às 7:17
Davi e Wanessa Camargo, participantes do BBB 24. Foto: reprodução

Eu admito que todo começo de ano eu acompanho as edições do Big Brother Brasil como um escape para um mundo que não é legal: ver pessoas, algumas delas bem equivocadas, discutindo trivialidades dentro de uma casa, é uma boa forma de entretenimento para quem está sem fazer nada.

Mas as últimas edições ficaram difíceis de assistir. E isso se potencializou com a entrada de pessoas famosas, ricas e cheias de privilégios, que atacam pessoas como eu, homens da cor preta, também conhecidas como a carne mais descartável da sociedade brasileira.

Na edição 24 do programa global, a coisa não é diferente. O baiano Davi, um jovem negro de apenas 21 anos, é um motorista de aplicativo em Salvador que é um dos 26 participantes do programa. E atraiu a implicância de algumas pessoas da casa por seu jeito espontâneo, com destaque para duas celebridades brancas com nome e, principalmente, sobrenome: Yasmin Brunet, filha da modelo Luiza Brunet, e a cantora Wanessa Camargo, filha do também cantor e hoje papagaio de pirata do bolsonarismo Zezé di Camargo.

Yasmin tece críticas mais veladas ao comportamento que ela considera “irritante” e “inadequado” do jovem Davi. As falas de Wanessa, no entanto, são ainda mais dolorosas e revelam uma relação que ela quer que o baiano tenha com ela: a de servidão.

Wanessa fala, em alto e bom som, que Davi é um ser raivoso que ativa “gatilhos” nela. A cantora diz que ele é um homem “agressivo, abusivo, perigoso e manipulador”.

A sorte de Davi é que as câmeras provam que nada do que ela fala sobre o jovem é verdade. Davi é um jovem comum, que discute, participa de provas e disputa com lealdade. Ao contrário da cantora goiana.

Mas, convenhamos, para o pessoal dentro da casa, a impressão não é a mesma. A sociedade aprendeu que uma mulher branca com privilégios acusando um homem negro de algo é quase como uma sentença de que o cara está realmente cometendo uma atrocidade.

A coisa, além disso, fica ainda mais bizarra quando pensamos que Wanessa mantém um relacionamento amoroso com Dado Dolabella. Um homem branco, herdeiro e privilegiado, que já tem mais de um processo nas costas de agressão a mulheres, tendo inclusive quebrado dois braços de uma mulher negra e sido enquadrado na Lei Maria da Penha.

Para mim, um homem negro (e com histórico público de acusação de uma mulher branca, aliás no dia da véspera das eleições), é algo muito doloroso. E talvez seja a hora de deixar de dar audiência a algo que me faz mal.

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Luan Araújo
Jornalista formado em 2012, morador da periferia da Zona Leste de São Paulo, sambista e corintiano.