Quem é José Eduardo de Oliveira, padre alvo da PF em operação contra Bolsonaro

Atualizado em 9 de fevereiro de 2024 às 13:38
Padre José Eduardo de Oliveira e Silva. Foto: Divulgação

O padre José Eduardo de Oliveira e Silva, sacerdote da Diocese de Osasco (SP), foi alvo da operação da Polícia Federal deflagrada nesta quinta-feira (8), que também mira Jair Bolsonaro (PL) e aliados do ex-presidente envolvidos em um conluio para um golpe de Estado.

Atuando como padre na paróquia São Domingos, localizada no bairro de Umuarama, ele foi surpreendido na manhã desta quinta-feira com um mandado de busca e apreensão.

Segundo a PF, o padre participou de uma reunião em 19 de novembro de 2022, na qual teria sido discutida uma minuta golpista para impedir a posse de Lula (PT), então presidente eleito. Há registros de que ele entrou e saiu do Palácio do Planalto.

A operação da Polícia Federal foi autorizada pelo ministro do Supremo Tribunal, Alexandre de Moraes. Em representação enviada ao STF, a PF aponta que o padre “possui um site com seu nome no qual foi possível verificar diversos vínculos com pessoas e empresas já investigadas em inquéritos correlacionados à produção e divulgação de notícias falsas”.

Bandeira do Brasil sobre o altar durante uma missa. Foto: Divulgação

No dia do primeiro turno da eleição de 2022, o padre publicou uma foto do altar de uma igreja coberto com a bandeira do Brasil, acompanhada da legenda: “Uns confiam em carros, outros em cavalos. Nós, porém, confiamos no Senhor e, assim, resistiremos”. Seu perfil reúne quase 300 mil seguidores.

Segundo a PF, ele faria parte do chamado “núcleo jurídico” de uma organização criminosa que atuava para desacreditar o processo eleitoral, além de planejar e executar um golpe de Estado com o objetivo de abolir o Estado Democrático de Direito e impedir a posse de Lula.

O “núcleo jurídico” operava por meio da “avaliação e elaboração de minutas de decretos com fundamentação jurídica e doutrinária que atendiam aos interesses golpistas do grupo investigado”.

Um relatório da Polícia Federal apontou que o religioso possui site “no qual foi possível verificar diversos vínculos com pessoas e empresas já investigados em inquéritos correlacionados a produção e divulgação de notícias falsas”.

Padre homenagem de Nunes por combater a “ideologia de gênero”

O então vereador Ricardo Nunes e o padre padre José Eduardo de Oliveira em 2016. Foto: Reprodução

Em 2016, quando era vereador, o atual prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), concedeu a Salva de Prata, maior honraria da Câmara Municipal de São Paulo, para o religioso por sua atuação contra a “ideologia de gênero”.

Na ocasião, ele argumentou que a homenagem se justificava por seu “excelente trabalho junto ao Plano Nacional e Municipal da Educação, valorizando a família contra a ideologia de gênero”. A honraria gerou diversos protestos da comunidade LGBTQIA+ contra Nunes à época.

Covarde, padre já atacou Judith Butler 

José Eduardo é um bobo alegre — mas um bobo alegre com ideias fascistoides, cheio de rancor. Sem noção, em 2017, ele foi ao Twitter comemorar a agressão a Judith Butler. O religioso havia dito que “a Judith Butler nunca foi tão esculhambada na vida dela! #ForaButler”.

E ainda: “O Brasil não foi só o primeiro a se opor a Butler, mas também a desmascarar sua impostura filosófica. Imagine a raiva de quem passou a vida cochichando sofismas e, de repente, os vê flagrados no meio da rua e pelo povão”.

No post seguinte, escreveu que os semeadores de ódio deveriam se sufocar “em sua própria sanha”. Ele apagou as publicações odientas, mas deixou rastros. Na pressa, ele esqueceu de se livrar de outras mensagens de rancor contra a filósofa:

Seguidor fanático de Bolsonaro, ele prega o ódio e a violência. É obcecado pela tal “ideologia de gênero” e pelos comunistas que enxerga debaixo da cama.

Já em 2018, em meio ao lamaçal de fake news disparadas por WhatsApp na campanha de seu Messias, ele lembrou das palavras de Jesus sobre os cascateiros.

“Clamemos, em nome de Jesus Cristo, ao Espírito Santo, o Espírito da Verdade, que destrua as obras do diabo, pai da mentira!”, disse. Amém.

Padre acusou STF de ativismo

Em 2018, o padre foi um dos representantes da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) em audiência no STF para discutir se o aborto deveria ser descriminalizado. Contrário ao procedimento, José Eduardo acusou a Corte de “ativismo”.

“Esta audiência não se presta para o fim para o qual foi convocada. Presta-se apenas para o ativismo desta Corte”, disse ele na ocasião.

“Grande amigo” de ex-assessor de Bolsonaro preso

O padre José Eduardo de Oliveira e Silva ao lado de Filipe Martins, ex-assessor de Bolsonaro - Metrópoles
Filipe Martins e José Eduardo. Foto: Reprodução

O padre também já fez postagem chamando Filipe Martins, ex-assessor de Jair Bolsonaro (PL) preso pela PF, de “grande amigo”.

Martins foi assessor para Assuntos Internacionais da Presidência da República e está entre os detidos pela PF nessa quinta. Saad também foi alvo da operação e é apontado pela investigação como o redator da minuta golpista.

Em 2018, o padre se manifestou diversas vezes a favor a eleição de Bolsonaro à Presidência, inclusive durante suas homilias. “Ele fazia missas com a bandeira [nacional] para limpar o Brasil do PT nas eleições de 2018”, disse à um dos ex-frequentadores da paróquia, que pediu para não ser identificado, ao Metrópoles.

Em 4 de janeiro de 2019, dias após a posse de Bolsonaro, José Eduardo publicou uma foto ao lado de Martins com a seguinte legenda: “Com o querido Filipe Martins, novo assessor político da Presidência da República e grande amigo”, escreveu no Facebook.

Na imagem, os dois aparecem portando credenciais da posse de Bolsonaro. O padre também possui fotos com outros bolsonaristas como o general Walter Braga Netto, outro alvo da PF na investigação sobre a suposta tentativa de golpe, a senadora Damares Alves (Republicanos-DF), então ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, e a deputada Bia Kicis (PL-DF).

José Eduardo está proibido de manter contato com os demais investigados, de deixar o país, e teve apreendidos seu passaporte, seu celular e seu computador.

Encontro com Eduardo Bolsonaro

Grande amigo”: a relação entre padre e ex-assessor de Bolsonaro preso | Metrópoles
Eduardo Bolsonaro e padre José Eduardo. Foto; Reprodução

No Facebook do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente, há um registro de uma reunião com o padre José Eduardo em Brasília, em maio de 2019.

O encontro, conforme relatado pelo deputado, visava “analisar estratégias pró-vida no Congresso e como barrar o ativismo judicial, que busca através do STF criminalizar a homofobia e botar em risco a liberdade de expressão e religiosa em nome do politicamente correto.”

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