
Durante a enchente que paralisou o Aeroporto Internacional Salgado Filho, em Porto Alegre, a Polícia Federal identificou o risco de roubo de uma carga milionária de armas de fogo da fabricante Taurus. A notícia vazou para uma facção criminosa, que planejava um audacioso ataque para se apossar das armas.
O jornal ABC+, de Novo Hamburgo (RS), apurou que, diante desse cenário, foi organizada uma operação para remover o arsenal das instalações alagadas do terminal de exportação. A notícia foi veiculada no último domingo (12) como uma ação exclusiva da Polícia Federal.
Porém, para recuperar os fuzis e pistolas, a empresa enganou voluntários, chamando-os para salvar crianças em perigo. Assim, o que era para ser uma ação coordenada entre autoridades e empresas acabou se transformando em uma saga repleta de controvérsias e tensões.
O trabalho preventivo foi realizado por ajudantes que não tinham conhecimento prévio da natureza da missão. “Nos enganaram, pois fomos chamados para resgatar crianças e acabamos virando escudo humano”, relatou Nicolas Vedovatto, um dos voluntários. “Ainda não caiu a ficha. É surreal o que passamos”, comentou Igor Garcia de Oliveira, outra pessoa que contribuiu gratuitamente para a ação.
A operação, que contou com o transporte das armas em barcos custeados pelos próprios voluntários, foi marcada por uma série de desafios e imprevistos. “Nos sentimos coagidos”, relatou uma médica que preferiu não ser identificada, acrescentando que foram informados em cima da hora sobre a verdadeira natureza da operação.
A falta de preparo e segurança adequados durante o transporte das 156 caixas de armamento levanta questionamentos sobre a organização e responsabilidade dos envolvidos. “Não tínhamos coletes à prova de balas nem orientação adequada”, destacou Nicolas. Além disso, a presença de snipers da Polícia Federal no local gerou ainda mais tensão entre os voluntários.
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Apesar da controvérsia, a operação foi concluída com sucesso. Os voluntários ainda se sentem traídos e expostos a um grave risco de segurança. “Estamos assustados e muito preocupados”, afirmou Nicolas.
A revelação de que a operação envolvia armamento ao invés de resgate de crianças surpreendeu não apenas os ajudantes, mas também a opinião pública. Em uma reportagem exibida pelo Fantástico, os voluntários foram retratados como policiais de elite, o que gerou ainda mais desconforto e indignação entre eles.
Após as denúncias sobre a operação, a Polícia Federal emitiu uma nota à imprensa esclarecendo que a retirada das armas foi coordenada pelo Comando de Operações Táticas (COT) em conjunto com a Fraport e a empresa proprietária da carga. Porém, as circunstâncias que levaram à participação dos voluntários na operação não foram oficialmente explicadas.
Enquanto isso, a Taurus, fabricante das armas envolvidas na operação, esclareceu que a logística de remoção foi coordenada pela PF e que seus funcionários estavam presentes para conferência e manuseio das armas, de acordo com as diretrizes legais e regulatórias.