
A candidatura de Pablo Marçal (PRTB) pela prefeitura de São Paulo, somada aos deslizes de Ricardo Nunes (MDB), está causando um racha entre as principais lideranças da extrema-direita, que têm manifestado insatisfação com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) por apoiar o atual prefeito da capital. Esse descontentamento de parlamentares do PL e de partidos aliados, como o Republicanos, está se convertendo em um apoio mais amplo para o coach.
Apesar disso, os principais influenciadores de direita têm evitado expressar suas críticas nas redes sociais para não contrariar Bolsonaro. Uma ordem direta do ex-presidente impede que esses influencers compartilhem conteúdos pró-Marçal, enquanto Nunes mantém como vice em sua chapa Ricardo Mello Araújo (PL), uma escolha pessoal de Bolsonaro.
“Estamos quietos, mas não podemos expressar apoio abertamente a Marçal”, confidenciou uma liderança bolsonarista ao Uol. Para muitos dentro do movimento, Marçal é o candidato que melhor representa o legado de Bolsonaro. Durante a convenção partidária, o empresário adotou um discurso alinhado à pauta de costumes defendida pelo ex-presidente, culminando com um pedido de oração, um símbolo recorrente nos eventos bolsonaristas.
A aliança de Bolsonaro com Nunes, segundo fontes, também busca uma proteção estratégica no Judiciário. Com a proximidade de lideranças centristas, espera-se que Bolsonaro e o presidente do Partido Liberal, Valdemar Costa Neto, consigam neutralizar eventuais decisões desfavoráveis do ministro do Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), com quem ambos têm uma relação tensa.

O apoio de Valdemar a Nunes, que inicialmente se deu pela falta de projeção política de Marçal, agora enfrenta uma reavaliação. Marçal, que vem ganhando força nas últimas semanas, tem se posicionado como um outsider, sem “amarras”, e se utiliza de factoides e fake news para atacar seus adversários. Essa postura tem atraído uma fatia do eleitorado que vê em Marçal uma alternativa mais alinhada ao bolsonarismo raiz.
Durante uma entrevista, Bolsonaro chegou a elogiar Marçal, descrevendo-o como “uma figura nova, que fala muito bem, é uma pessoa inteligente e tem suas virtudes”. Mas o ex-presidente voltou a reforçar seu apoio a Nunes, ressaltando que tem um compromisso com a candidatura do prefeito: “Vou ajudá-lo onde for possível”.
A simpatia de Bolsonaro por Marçal é conhecida dentro do círculo da extrema-direita, mas após os debates eleitorais, a força do empresário só cresceu. Esse aumento de popularidade forçou a campanha de Nunes a realizar reuniões de alinhamento na última semana, tentando conter o apoio velado a Marçal.
Em resposta ao episódio em que Nunes apoiou Joice Hasselmann (Podemos), o deputado federal Eduardo Bolsonaro, terceiro filho do ex-presidente, criticou o prefeito, acusando-o de falhar em seus acenos à direita.
Marçal não deixou o ataque passar em branco e, em um vídeo, pediu perdão a Bolsonaro, mas afirmou que “o povo de São Paulo não vai prestar continência para o vagabundo do [Guilherme] Boulos nem para o banana do Nunes”. Em resposta, Bolsonaro publicou um vídeo pedindo a reeleição de Nunes para “o bem da cidade e de todos nós”, citando a coligação do PL com o MDB.
Apesar dos esforços, a publicação de Bolsonaro não surtiu o efeito desejado. Pela primeira vez, um líder diferente do apoiado pelo ex-presidente ganha força entre os bolsonaristas, com Nunes sendo visto como “brando” demais, um traço considerado “tucano” pelos mais radicais.
Muitos aliados veem essa situação como um sinal de que o bolsonarismo está começando a caminhar com suas próprias pernas, independente de seu líder.
Com a manifestação de 7 de setembro se aproximando, o apoio de Bolsonaro será posto à prova. A presença de Marçal e Nunes em espaços diferentes durante o evento pode ser um divisor de águas. Interlocutores afirmam que, se Nunes não se posicionar criticamente contra Alexandre de Moraes, uma debandada pública de lideranças pode ocorrer, enfraquecendo ainda mais a candidatura do atual prefeito.