“Dependência” das Forças Armadas da Starlink de Musk expõe a degradação da soberania nacional

Atualizado em 30 de agosto de 2024 às 17:50
Bolsonaro e Musk em encontro anunciando “parceria” no projeto “Conecta Amazônia”

A decisão de Alexandre de Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal, de bloquear as contas bancárias da Starlink, acabou resvalando nas Forças Armadas do Brasil e em sua sujeição a interesses estrangeiros e golpistas.

Ao penalizar a Starlink, do mesmo grupo econômico da rede social X (antigo Twitter), Moraes tenta garantir o pagamento das multas diárias estabelecidas pela Justiça em razão de decisões não cumpridas pelo bilionário Elon Musk. O X não tem representação legal no país, como se vivêssemos no Velho Oeste.

Em junho, o Exército e a Marinha já haviam enviado ao Ministério da Defesa parecer sobre as consequências de um possível rompimento dos contratos com a companhia de sistema de satélites de Musk. Foi em resposta a um requerimento de informação feito pelo deputado bolsonarista Coronel Meira (PL-PE).

Segundo parecer do Exército, “entende-se que, no caso de um eventual cancelamento de contrato com a referida empresa, poderá haver prejuízo para o emprego estratégico de tropas especializadas”.

“As capacidades entregues pela empresa proporcionam, entre outros fatores, redundância operacional, elevada confiabilidade, rapidez de instalação, altas taxas de banda, cobrindo grandes distâncias com praticamente nenhuma interferência do terreno ou das condições atmosféricas, bem como de uso em locais sem nenhuma infraestrutura”.

Musk não deixou passar a oportunidade de ser canalha: “A Starlink continuará apoiando os militares brasileiros mesmo que nossas contas bancárias no Brasil tenham sido congeladas ilegalmente pelo Juiz Voldemort”.

“Surpreendente a informação de nossas Forças Armadas, dada ao Legislativo, que sua capacidade de operação é ultra dependente da Starlink, empresa privada de Musk”, escreveu o jurista Pedro Serrano no X. “Urge a adoção de medidas garantidoras da soberania nacional no tema. A segurança nacional não pode depender de uma empresa privada, seja qual for”.

“A Starlink continuará apoiando os militares brasileiros mesmo que nossas contas bancárias tenham sido congeladas ilegalmente pelo Juiz Voldemort”, diz Musk

No documento enviado à Câmara, a Marinha também se posicionou sobre um eventual rompimento dos seus contratos de R$ 428,3 mil com a empresa de Elon Musk.

Isso levaria a uma “degradação da capacidade de informações meteorológicas e logísticas”, poderia “comprometer a segurança da navegação” e obrigaria a procura por “soluções mais custosas”. Outros prejuízos citados pela Marinha foram operações de resgate e salvamento.

“A capacidade de manter comunicações por satélite faz parte dos Requisitos Mínimos de Comunicações de Navio, visando o envio de informações em tempo real, seja por voz ou dados, essenciais para o gerenciamento das ações desencadeadas em prol da salvaguarda da vida humana no mar ou para o atendimento a situações de crise”.

Uma vergonha. Ricardo Cappelli, ex-interventor no DF após a tentativa de golpe do 8 de janeiro, atualmente presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), resumiu a palhaçada no X: “Tem ‘patriota’ defendendo o bilionário estrangeiro dizendo que ele é importante para os operações do exército brasileiro. Quem depende do estrangeiro não pode defender nossa soberania. Ótima oportunidade para construirmos alternativas tecnológicas para as nossas Forças Armadas”.

Kiko Nogueira
Diretor do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.