Brasil registra pior seca de sua história, diz governo

Atualizado em 4 de setembro de 2024 às 20:45
Casas flutuantes encalhadas no leito do Igarapé do Xidamirim, no Amazonas, em 20 de agosto de 2024, foto do alto
Casas flutuantes encalhadas no leito do Igarapé do Xidamirim, no Amazonas, em 20 de agosto de 2024 – Bruno Kelly/Reuters

O Brasil está enfrentando a pior seca já registrada desde o início da série histórica atual, que começou em 1950. De acordo com um índice que avalia a quantidade de chuva e a evapotranspiração das plantas, o cenário atual supera as secas de 1998 e de 2015/2016.

Esses dados foram divulgados nesta quarta-feira (4) pelo Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais). A seca de 2024 afeta uma área de 5 milhões de quilômetros quadrados, representando 58% do território nacional, o que é 500 mil quilômetros quadrados a mais do que em 2015.

Uma imagem aérea capturada recentemente mostra estruturas de madeira com telhados vermelhos próximas a um rio quase seco, além de barcos encalhados em Iranduba, no Amazonas, no rio Negro, afetado pela seca.

Como a série histórica do Cemaden começa em 1950, secas severas anteriores, como a do final da década de 1870, que causou a morte de centenas de milhares de pessoas, não foram incluídas na análise.

Embora os dados de 2024 cubram até abril, os baixos níveis de chuva e o estresse hídrico da vegetação, que também aumenta o risco de incêndios, indicam que o Brasil está enfrentando um período cada vez mais seco, conforme o instituto aponta.

Seca
Imagem de seca registrada pela TV Globo – Reprodução

O índice utilizado pelo Cemaden é o Índice de Precipitação Padronizado de Evapotranspiração (SPEI, na sigla em inglês), que calcula a diferença entre a quantidade de chuva e a água liberada pela evaporação e transpiração das plantas.

Conforme a pesquisadora Ana Paula Cunha, especialista em secas do Cemaden, uma pontuação entre 0 e -1 representa uma condição abaixo da média. Abaixo de -1, o índice reflete um cenário de seca intensa. Desde outubro de 2023, o Brasil tem estado nesse nível, atingindo -1,94 em março de 2024, o pior índice da série histórica.

Ela também alerta que os dados posteriores a abril de 2024 provavelmente continuarão mostrando condições adversas, já que coincidem com o início da estação seca.

O boletim de monitoramento de secas do Cemaden de agosto, publicado na terça-feira (3), indicou que 3.978 municípios brasileiros estavam sob algum nível de seca, com 201 deles em condição extrema, a mais grave registrada. São Paulo liderava essa lista, com 82 cidades afetadas, seguido por Minas Gerais (52) e Mato Grosso (24).

O Cemaden prevê que esse número pode subir para 4.583 municípios neste mês. O índice integrado de secas do instituto leva em consideração o déficit de chuva, a umidade do solo e a secura da vegetação.

A seca pode se agravar, pois as chuvas tendem a atrasar, e há possibilidade de intensificação da estiagem nas regiões central e norte do país, segundo o Cemaden. Nas últimas 24 horas, o Serviço Geológico do Brasil registrou uma queda de 25 cm no nível do rio Negro em Manaus, assim como no rio Solimões, em Manacapuru (AM).