
O Brasil está enfrentando a pior seca já registrada desde o início da série histórica atual, que começou em 1950. De acordo com um índice que avalia a quantidade de chuva e a evapotranspiração das plantas, o cenário atual supera as secas de 1998 e de 2015/2016.
Esses dados foram divulgados nesta quarta-feira (4) pelo Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais). A seca de 2024 afeta uma área de 5 milhões de quilômetros quadrados, representando 58% do território nacional, o que é 500 mil quilômetros quadrados a mais do que em 2015.
Uma imagem aérea capturada recentemente mostra estruturas de madeira com telhados vermelhos próximas a um rio quase seco, além de barcos encalhados em Iranduba, no Amazonas, no rio Negro, afetado pela seca.
Como a série histórica do Cemaden começa em 1950, secas severas anteriores, como a do final da década de 1870, que causou a morte de centenas de milhares de pessoas, não foram incluídas na análise.
Embora os dados de 2024 cubram até abril, os baixos níveis de chuva e o estresse hídrico da vegetação, que também aumenta o risco de incêndios, indicam que o Brasil está enfrentando um período cada vez mais seco, conforme o instituto aponta.

O índice utilizado pelo Cemaden é o Índice de Precipitação Padronizado de Evapotranspiração (SPEI, na sigla em inglês), que calcula a diferença entre a quantidade de chuva e a água liberada pela evaporação e transpiração das plantas.
Conforme a pesquisadora Ana Paula Cunha, especialista em secas do Cemaden, uma pontuação entre 0 e -1 representa uma condição abaixo da média. Abaixo de -1, o índice reflete um cenário de seca intensa. Desde outubro de 2023, o Brasil tem estado nesse nível, atingindo -1,94 em março de 2024, o pior índice da série histórica.
Ela também alerta que os dados posteriores a abril de 2024 provavelmente continuarão mostrando condições adversas, já que coincidem com o início da estação seca.
O boletim de monitoramento de secas do Cemaden de agosto, publicado na terça-feira (3), indicou que 3.978 municípios brasileiros estavam sob algum nível de seca, com 201 deles em condição extrema, a mais grave registrada. São Paulo liderava essa lista, com 82 cidades afetadas, seguido por Minas Gerais (52) e Mato Grosso (24).
O Cemaden prevê que esse número pode subir para 4.583 municípios neste mês. O índice integrado de secas do instituto leva em consideração o déficit de chuva, a umidade do solo e a secura da vegetação.
A seca pode se agravar, pois as chuvas tendem a atrasar, e há possibilidade de intensificação da estiagem nas regiões central e norte do país, segundo o Cemaden. Nas últimas 24 horas, o Serviço Geológico do Brasil registrou uma queda de 25 cm no nível do rio Negro em Manaus, assim como no rio Solimões, em Manacapuru (AM).