
Em entrevista ao Globo, a substituta de Silvio Almeida e nova ministra dos Direitos Humanos, Macaé Evaristo, disse que quer criar mecanismos para que casos de assédio não se repitam. Ela também afirmou que foi escolhida por sua trajetória, e não por ser uma mulher negra.
Confira alguns trechos:
(…) Qual a importância de ser uma mulher negra em um posto de primeiro escalão do governo?
Um debate importante do movimento negro e do movimento de mulheres é da representatividade. Primeiro, é importante a gente chegar no lugar dele. São poucas como nós que conseguem ainda devido à desigualdade. Mas quando as nossas mais novas podem nos ter como referência, até a possibilidade de sonhar se torna palpável.
Uma coisa maravilhosa para mim hoje, por exemplo, é encontrar uma médica ou um médico negro. Agora, a grande questão para mim é que eu estou aqui também porque eu sou uma mulher e também porque eu sou negra. Mas não é isso que faz a diferença. Eu acho que o que faz a diferença é que eu tenho uma trajetória de muita responsabilidade, de compromisso com os direitos humanos e tenho uma experiência de gestão que também é importante.
As análises feitas quando surgiram as denúncias de assédio sexual contra o ministro Silvio Almeida foram de que isso era ruim para o movimento negro, pelo destaque ele tinha. Como a senhora vê isso?
Um dos principais pontos do racismo é tratar a questão de um indivíduo como se isso fosse a regra do conjunto dos indivíduos. Quando a gente dá certo, é mérito, é individual. Mas se alguma coisa não funciona bem, o conjunto dos indivíduos são penalizados em função dessa questão. Precisamos avançar nos processos. A institucionalidade precisa saber lidar com assédio.

Sou uma mulher que defende os direitos das mulheres. Fui secretária de Educação e eu recebi denúncia, apurei e exonerei pessoas com processos, por exemplo, de pedofilia. Mas nem as vítimas, nem quem foi punido, teve o nome estampado nos jornais. As pessoas não têm que ter suas vidas devastadas. Nós estamos sofridas, mas nós temos que sair do luto para a luta. Vamos trabalhar para construir essas políticas, essa estratégia e mecanismos para que isso não se repita. (…)
Como a senhora pretende criar mecanismos para prevenir casos de assédio?
O presidente Lula já tinha publicado um decreto sobre essa questão do assédio moral, sexual, aqui para todo o governo. Agora, acho que precisa avançar, ter portarias que deixem muito explícito para todo mundo qual é o canal institucional (para fazer denúncias), quais as competências desse canal, qual é o caminho que o processo dessa natureza ou de qualquer assédio precisa percorrer. (…)