Leão Serva sabotou a notícia para esconder a real face do fascismo no debate. Por Moisés Mendes

Atualizado em 16 de setembro de 2024 às 19:13
O jornalista Leão Serva interrompeu debate após cadeirada de José Luiz Datena (PSDB) em Pablo Marçal (PRTB). Foto: Reprodução

Na condição de mediador, Leão Serva fez o que um jornalista nunca poderia fazer ao tirar do ar o debate de domingo na TV Cultura, no momento da cadeirada. E Serva é um grande jornalista.

No melhor momento, quando Datena jogou a cadeira em Pablo Marçal, o mediador pediu os comerciais, por favor. O mestre de cerimônias incorporou Flavio Cavalcanti e sabotou o jornalista.

Comerciais não deveriam se sobrepor ao jornalismo, naquelas circunstâncias, nem sob o ponto de vista do diretor comercial. A agressão não poderia ser mostrada? Em que manual está escrito que não?

O jornalismo dos púlpitos, falsamente cerimonioso, é diferente do jornalismo das guerras, das gangues e das baixarias da política?

Mesmo que a eleição em São Paulo, segundo Nunes, Datena, Tabata e Marçal, seja uma guerra de facções? Mesmo que a palavra bandido seja a mais repetida nos debates?

Os candidatos de direita se acusam desde o início da campanha, na base do você é mais facínora do que eu. Boulos disse no debate que só concorda com Nunes e Marçal quando um denuncia o outro por vínculos com traficantes.

Que manual de bons modos nos impede de ver o melhor momento na TV de uma guerra com várias facções infiltradas na política, se essa é, desde o começo dos tempos do bolsonarismo, a natureza da coisa?

O que não pode ser mostrado das podridões de direita e extrema direita da política brasileira, condensada no que acontece em São Paulo? Só a cadeirada?

Ao pedir os comerciais, Serva agiu com pudor em meio a um cenário geral em que o que menos existe é exatamente pudor. Serva tentou nos poupar do quê?

Situações como essa acionam uma velha piada sobre os compartimentos do jornalismo de áreas e departamentos. Um repórter da área de espetáculos de um jornal de Sorocaba foi cobrir o show de abertura da temporada de um grande circo na cidade.

O circo pegou fogo e o repórter nem voltou para a redação. No outro dia, cobrado pelo chefe, explicou: não houve espetáculo, e ele era repórter de entretenimento, não cobria incêndios.

Se não houve show, não havia notícia na área em que trabalhava.

Serva nos impediu de ver a sequência do grande espetáculo da cadeirada na TV Cultura, porque cobria o debate, e não a violência que latejava e em certo momento se manifestou. E isso que a cadeirada foi coisa do circo do fascismo.

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Moisés Mendes
Moisés Mendes é jornalista em Porto Alegre, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim) - https://www.blogdomoisesmendes.com.br/