A lição de jornalismo da mediadora da Rede TV. Por Moisés Mendes

Atualizado em 18 de setembro de 2024 às 7:38
A jornalista Amanda Klein como mediadora do debate entre candidatos à Prefeitura de SP transmitido pela Rede TV na terça-feira (17) – Foto: Reprodução

Não sei nada de Amanda Klein, mediadora do debate Rede TV-UOL com os candidatos à prefeitura de São Paulo nessa terça-feira. Como não vejo a Rede TV, não a conhecia e confesso aqui minha ignorância.

Pois Amanda Klein deu uma aula de jornalismo, logo no começo do debate, quando Pablo Marçal e Ricardo Nunes começaram a bater boca e o ex-coach falava aos berros.

É óbvio que o bandido condenado tentava provocar algo como uma nova cadeirada, mesmo que as cadeiras estivessem parafusadas. Mas Amanda não se acovardou.

Passou a falar tão alto quanto os bolsonaristas e os alertou de que poderiam ter de deixar o estúdio. Mas em nenhum momento ameaçou tirar o debate do ar, o que é padrão nessas circunstâncias.

A mediadora manteve o debate no ar, no meio da confusão, com os dois tentando saber qual deles é mais bandido. E conseguiu controlar a situação com bravura.

Por que considero esse registro importante? Porque no debate na TV Cultura, no domingo, o jornalista Leão Serva, acionado pelos mecanismos de defesa dos mediadores, pediu os comerciais, por favor, e tirou o debate do ar logo depois da cadeirada de Datena em Marçal.

Fez o que um moderador está programado para fazer em meio a um conflito ao vivo. Mas, nesses casos, o jornalismo sempre sai perdendo.

Porque a notícia, mesmo com cenas de violência, não pode ser escondida, muito menos nessas circunstâncias, ou os conflitos seriam camuflados por regras de conduta não escritas e não haveria nem cobertura de guerra.

O que estava em exposição ali na Cultura, naquele momento, como denúncia do nível da campanha paulistana, era a essência da política brasileira hoje, que normaliza até a presença de bandidos numa corrida eleitoral. Com a conivência da grande imprensa.

Na terça-feira, a Cultura corrigiu o erro de Leão Serva e decidiu divulgar imagens com a sequência da cena, que haviam sido sonegadas.

Foi a confissão de que o jornalismo não pode se submeter, quando a notícia acontece, a normas de um debate com gente ligada ao crime organizado e falsas liturgias de civilidade.

(O debate teve também uma boa participação dos jornalistas que, em dois blocos, fizeram perguntas: Raquel Landim, Thais Bilenky e Thiago Herdy, do UOL, e da RedeTV! Willian Kury, Stella Freitas e Felipe Brosco, da Rede TV.)

Abaixo, o línk para as novas imagens, com o alerta de que tem cena de violência.

Originalmente publicado no Blog do Moisés Mendes

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Moisés Mendes
Moisés Mendes é jornalista em Porto Alegre, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim) - https://www.blogdomoisesmendes.com.br/