O silêncio ensurdecedor da comunidade libanesa do Brasil diante do massacre de Israel

Atualizado em 26 de setembro de 2024 às 19:24
Ali Kamal Abdallah, brasileiro de 15 anos morto no Líbano após ataque de Israel no Vale do Becá, a 30 quilômetros de Beirute

A recente escalada de violência de Israel contra o Líbano, marcada por intensos bombardeios pretextando a destruição do Hezbollah, só não é mais chocante que o silêncio da poderosa comunidade libanesa no Brasil.

O Itamaraty confirmou a morte trágica de um adolescente brasileiro, Ali Kamal Abdallah, de 15 anos, e seu pai, Kamal Hussein Abdallah, de 64 anos, atingidos por um foguete na cidade de Kelya, no Vale do Beqaa. Os dois estavam trabalhando na fábrica da família.

Nesta quinta, 26, outra jovem brasileira, Myrna Raef Nasser, de 16 anos, foi assassinada durante um ataque na mesma região. Segundo relatos de seu tio, que reside em Balneário Camboriú, ela estava numa área que até então era considerada segura. Myrna, nascida no Brasil e levada para o Líbano ainda bebê, encontrou um fim trágico na terra para a qual sua família havia retornado.

Este cenário de perda e destruição é amplamente conhecido, mas o que chama atenção é a omissão perturbadora da influente comunidade libanesa. Com uma presença significativa e uma longa história de integração e sucesso político e econômico dentro do país, espera-se que essa comunidade seja uma voz ativa na condenação das agressões e na busca por soluções pacíficas.

No entanto, nada acontece. Nada. Não se ouve um pio nos corredores do Sírio-Libanês ou no clube Monte Líbano. Nada fizeram enquanto os palestinos eram massacrados. Agora assistem calados ao extermínio de sua própria gente.

Aliás, minto: o golpista Michel Temer disse à colunista Mônica Bergamo que a ONU deveria tomar “providências mais efetivas, firmes e seguras” e que Netanyahu leva adiante a barbárie para “se manter no poder”. Em seguida, logo passou para Israel (“Eu vi que a maioria do povo quer acordo e paz”) e foi para cima do Hamas. A cereja do bolo é a falsa equivalência: “É doloroso dos dois lados, e isso precisa ter um fim”.

Se você fizesse parte da orgulhosa comunidade libanesa, deixaria que Temer fosse seu porta-voz? A ausência de uma posição clara e forte frente aos ataques de Israel é uma vergonha. Não apenas omite solidariedade para com as vítimas, mas passa a imagem de indiferença frente à destruição de sua raízes no Líbano.

Kiko Nogueira
Diretor do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.