Candidato bolsonarista é condenado por destruir radar, vira deputado e propõe lei para acabar com radares

Atualizado em 2 de outubro de 2024 às 19:22
O candidato de extrema-direita Henrique do Paraíso (à direita): ao contrário de seus pares, seu arqui-inimigo não é o comunismo (crédito: divulgação)

O candidato à prefeitura de Sumaré (SP) e atual vice-prefeito, Henrique do Paraíso (Republicanos), apoiado pela extrema direita de Jair Bolsonaro (PL-RJ), tem um arqui-inimigo declarado, contra quem está disposto a ir até as últimas consequências para fazê-lo sumir do território nacional.

O político, inclusive, já o enfrentou a pontapés, tendo sido condenado judicialmente por isso. Depois, quando foi eleito deputado suplente, foi chamado a exercer o cargo por cinco meses, e aproveitou a chance para propor uma lei que fizesse com que seu arqui-inimigo fosse banido do país.

O inimigo número 1 de Henrique do Paraíso são os radares móveis e a segurança no trânsito.

Em 2019, ele já era vice-prefeito do município paulista da região de Campinas e transformou-se em triste notícia ao deixar-se filmar destruindo radares móveis na cidade que auxiliava (ou assim deveria) a administrar.

“Na minha cidade, não!”, vociferou o político para a câmera, enquanto vandalizava o equipamento. Disse ainda que tudo fazia sob ordens do então e atual prefeito, Luiz Dalben (Cidadania), que agora tenta emplacar um parente nesta eleição (Eder Dalben, do mesmo partido), concorrendo contra o republicano. Assista abaixo.

Resultado: em menos de uma semana, o Ministério Público abriu inquérito para investigar a conduta e processar Henrique do Paraíso.

Henrique do Paraíso (Republicanos) virou notícia nacional após destruir patrimônio da própria cidade que ajudava a administrar (crédito: reprodução)

Na sequência, Henrique do Paraíso foi devidamente investigado, denunciado e condenado em segunda instância, o que ocorreu no final de abril deste ano. O MP denunciou o político por crime de improbidade administrativa e pediu a condenação do agora candidato por violação aos princípios administrativos.

Os desembargadores do Tribunal de Justiça de São Paulo acataram a acusação, condenando o candidato por entender que a vandalização do radar viola o princípio da legalidade na Administração Pública.

Assim, além de ser proibido de fazer qualquer contrato com a administração pública e receber benefícios fiscais por conta da improbidade, Henrique do Paraíso foi condenado a pagar uma multa de R$ 8.027,49. Disse ele que vai recorrer.

A ira de Henrique do Paraíso contra os medidores de trânsito pode vir da inspiração gerada pelo seu ídolo político – Jair Bolsonaro -, que naquele mesmo ano de 2019 mandou suspender o uso de radares em rodovidas federais.

Mas também pode ser oriunda de seus hábitos de trânsito, a julgar pelo que revelou o motociclista de Sumaré Wellinton Monteiro da Silva Ferreira, em suposta postagem na internet dando conta de um atropelamento que sofrera de um carro – de propriedade de Henrique do Paraíso -, no ano de 2018. Veja abaixo.

Postagem de motociclista de Sumaré acusando o vice-prefeito de tê-lo atropelado na contramão (crédito: TJ-SP)

O caso foi parar na Justiça. Henrique alegou que não era ele quem estava dirigindo o automóvel, muito embora o veículo fosse de sua propriedade. Já a vítima provou o traumatismo craniano e a fratura exposta que sofreu por meio de laudos médicos, como este que é reproduzido abaixo.

Laudo médico comprovando as fraturas de motociclista atropelado por carro do vice-prefeito (crédito: TJ-SP)

No final, o caso terminou em acordo na Justiça, em 2022. O que não acabou, no entanto, foi a sanha persecutória de Henrique do Paraíso contra seu maior inimigo, a segurança e os radares de trânsito.

Em 2021, quando assumiu por cinco meses o cargo de deputado federal, apresentou o projeto de Lei 2903/2021, para proibir a “utilização de radares/medidores de velocidade na modalidade portátil em todo território nacional”.

O projeto de lei “radaricida” de Henrique do Paraíso: ele não quer saber de controle de velocidade nas estradas (Crédito: Câmara dos Deputados)

De acordo com o projeto do agora candidato a prefeito, entidades e agentes de segurança públicos de trânsito descumpridores da decisão estariam sujeitos a multa de até R$ 30 mil. Em caso de reincidência, multa de até R$ 60 mil, além de condenação por improbidade administrativa!

O projeto foi engavetado um mês depois de sua apresentação.

Pesquisas apontam que a fiscalização de vias por radar contribui para a redução de mortes em acidentes de trânsito. Em Salvador, o uso de radares reduziu o número de vítimas em 56% em dez anos, segundo reportagem da CNN Brasil.

Para Henrique do Paraíso, isso pouco importa. Parafraseando estudantes de outrora da Faculdade de Direito da USP, quantos radares forem colocados nas ruas do Brasil e de Sumaré, tantos o bravo político combaterá.