Vladimir Safatle acende “alerta vermelho” para o PT após 1° turno: “A extrema direita volta ao poder”

Atualizado em 14 de outubro de 2024 às 8:06
O filósofo e professor da USP (Universidade de São Paulo) Vladimir Safatle. Foto: reprodução

O filósofo e professor da USP (Universidade de São Paulo) Vladimir Safatle disse, em entrevista ao UOL, que acredita que o primeiro turno de 2024 foi um “alerta vermelho” para o PT. Ele, que vem insistindo na tese de que a esquerda brasileira está morta e que ela “não tem o que dizer à periferia”, também afirmou que a extrema direita pode voltar ao poder:

A esquerda não chegou à periferia porque não tem o que dizer para a periferia. O que tem para dizer para a população periférica? Serão criadas macroestruturas de proteção social, grandes estruturas de educação pública, vamos fazer o ensino secundário totalmente gratuito para que as pessoas não sejam obrigadas a pagar, ou um investimento sólido no sistema educacional? Não tem nada disso acontecendo. Nada disso está na pauta do dia.

A extrema direita diz: ‘Agora é cada um por si.’ E isso tem um nome, que é empreendedorismo. O problema é que a esquerda integrou o discurso do empreendedorismo e isso é uma lógica suicida. Porque se esse é o jogo, se essa é a gramática, a esquerda não tem nada para oferecer.

Hoje o nosso papel [da esquerda] é a defesa do Judiciário, defesa dos direitos morais, defesa das instituições, defesa da normalidade democrática, defesa dos contratos. Como é que a gente pode ser antissistema? Isso não tem o menor sentido. Por isso que a esquerda morreu. Essa é a razão pela qual ela morreu.

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O presidente Lula (PT): Para Safatle, essa eleição foi um alerta vermelho mais forte para o PT. Foto: reprodução

Essa eleição foi um alerta vermelho mais forte para o PT. Se as coisas continuarem como estão, a extrema direita volta ao poder em 2026, com certeza. A extrema-direita tem uma lista de candidatos que têm possibilidades eleitorais. Essa eleição mostrou que o governo federal ainda não tem pautas robustas para apresentar que poderiam mostrar uma mudança estrutural na vida das pessoas.

As primeiras prefeituras da esquerda brasileira pós-ditadura tinham um modelo de gestão com práticas que eram copiadas. Entre elas, uma tecnologia de poder que desapareceu por completo. Não há um elemento para ser memorizado. Nessa eleição, a esquerda teve um discurso gerencial. (…)

A esquerda, enquanto força motriz do debate político, morreu. Quem dá a pauta do debate hoje é a extrema-direita. O que nos resta até agora é ficar desesperadamente tentando construir frentes amplas para tentar barrar a ascensão da extrema-direita. Com isso, as pautas da esquerda vão se descaracterizando. A esquerda precisa radicalizar o discurso. Só quem se radicaliza sobreviveu. Não existe mais centro, isso é uma ilusão.