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Documentos sobre Caiado em celular de empresário assassinado foram apagados pela polícia

Atualizado em 23 de novembro de 2024 às 13:30
O empresário Fábio Escobar, assassinado em Goiás

Documentos associados ao Ministério Público de Goiás, obtidos pelo portal Vero Notícias, revelam que dados do celular do empresário Fábio Escobar, assassinado em junho de 2023, que continham referências ao governador Ronaldo Caiado, foram misteriosamente deletados pela Polícia Civil do estado.

A Polícia Civil concluiu que Escobar foi morto por vingança após ter denunciado desvios de dinheiro na campanha eleitoral de 2018 do ex-presidente do Democratas, Cacai Toledo.

A Coordenadoria de Segurança Institucional e Inteligência (CSI), uma subdivisão do MPGO sob a Procuradoria-Geral de Justiça, conforme o Ato da PGJ de nº 38/21, detectou que arquivos foram removidos do dispositivo, indicando possível adulteração de provas. Esses documentos, atualmente sob sigilo, foram requisitados pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), também vinculado ao MPGO.

Ronaldo Caiado, governador de Goiás

A CSI conseguiu restaurar certos arquivos, contatos e informações que foram excluídos logo após a morte de Escobar, usando os programas de recuperação de dados Iped e Celebration, comumente utilizados pela Polícia Civil de Goiás para acessar conteúdos apagados. Esses dados incluíam arquivos que mencionavam Caiado e foram deletados no dia da morte.

A esposa de Escobar, em depoimento à Justiça, mencionou que ele teria tentado contactar o governador para discutir ameaças que estava recebendo.

No entanto, no dia de sua morte, o celular de Escobar foi entregue ao agente de polícia Fabiano Félix, que trabalhava com o delegado Wllisses Valentim, responsável pela investigação de homicídios em Anápolis. Conversas e contatos com figuras políticas, incluindo os prefeitos Diego Sorgatto (Luziânia) e Roberto Naves (Anápolis), bem como um contato salvo como “Ronaldo Caiado”, também foram eliminados do aparelho.

Essas informações não foram incluídas no relatório inicial da investigação. Após a morte de Escobar, o celular foi enviado para a Gerência de Operação de Inteligência do estado para desbloqueio e extração de dados, mas foi relatado em 28 de junho que não foi possível acessar os dados devido ao bloqueio do aparelho.

Contraditoriamente, o delegado Valentim mencionou em uma conversa que já tinha visto previamente as conversas no celular de Escobar, sugerindo um possível acesso não autorizado ao dispositivo.

Em depoimento, o pai de Fábio Escobar acusou a polícia de “acessar e apagar provas” do celular do seu filho. Além disso, foi descoberto que uma conversa entre Escobar e Fernando, suposto autor do ataque, iniciada em 21 de junho com troca de 50 mensagens, havia sido deletada, contrariando o relatório policial que situava o início da conversa em 22 de junho.

Inicialmente, o Ministério Público de Goiás declarou que os documentos mencionados eram “falsos”, mas após receber a documentação completa, reconheceu a veracidade dos mesmos, embora não tenha produzido “relatórios de análise” sobre as evidências de manipulação.

Nos depoimentos obtidos pelo portal, o coronel da Polícia Militar de Goiás (PMGO) Benito Franco declarou que Cacai Toledo o teria procurado para “encomendar o assassinato do empresário” por “insistir” na cobrança de cargos no governo Caiado.

O advogado e ex-senador Demóstenes Torres, que representa Cacai, solicitou a inclusão de Caiado na ação penal que investiga o assassinato.