“Estado contribui para organização criminosa”, diz desembargadora em caso de morte em aeroporto

Atualizado em 24 de novembro de 2024 às 15:47
O empresário Antônio Vinícius Lopes Gritzbach. Foto: reprodução

O assassinato do empresário e corretor de imóveis Vinícius Gritzbach, alvejado com dez tiros de fuzil no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, no último dia 8, evidenciou a conexão entre o crime organizado e agentes do Estado.

Para a desembargadora Ivana David, do Tribunal de Justiça de São Paulo, a sobrevivência de facções como o Primeiro Comando da Capital (PCC) depende dessa simbiose. “Uma organização criminosa não sobrevive sem os braços dados com o estado”, afirmou ao Metrópoles.

Ivana David, que foi juíza corregedora dos presídios paulistas de 1999 a 2008, destacou como a corrupção dentro do sistema prisional reflete essa parceria. “Celular não voa nem anda sozinho; alguém colocou ele dentro da cadeia, e isso é fruto de corrupção”, explicou. Para ela, o envolvimento de autoridades se estende a várias esferas, como lavagem de dinheiro, narcotráfico e até homicídios. “Quando se estuda as organizações criminosas, é comum constatar a simbiose com o estado”, pontuou.

Pouco antes de ser executado, Gritzbach havia firmado um acordo de delação premiada com o Ministério Público de São Paulo (MPSP), no qual acusou um delegado e um investigador-chefe do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de lhe exigirem R$ 40 milhões para removê-lo de uma investigação. O empresário também estava sendo investigado pelo envolvimento no assassinato de dois integrantes do PCC, além de colaborar com a facção na lavagem de dinheiro.

Ivana David atuou como juíza corregedora dos presídios paulistas e testemunhou o surgimento e ascensão da facção criminosa PCC. Foto: Reprodução/ Instagram

A desembargadora ressaltou a gravidade das acusações contra os policiais citados por Gritzbach. “Estamos falando de desvios de milhões e de autoridades que tergiversam com provas para beneficiar criminosos em troca de dinheiro”, afirmou. Em depoimento à Corregedoria da Polícia Civil, Gritzbach mencionou o pagamento de pelo menos R$ 11 milhões em propina aos policiais para proteger outros investigados. O caso está sendo apurado pelas corregedorias das polícias Civil e Militar.

As investigações sobre a morte de Gritzbach, que podem envolver tanto o PCC quanto policiais, seguem em andamento. Segundo o secretário de Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, ainda não há evidências concretas sobre a participação de agentes no assassinato, mas a hipótese não está descartada. “As corregedorias seguem trabalhando”, afirmou Derrite, que confirmou o afastamento dos policiais investigados de suas funções operacionais.

Imagens de segurança mostram que Gritzbach foi alvejado 30 segundos após ser identificado por um olheiro do PCC no saguão do aeroporto. A polícia já identificou cinco envolvidos no crime, mas ainda não realizou prisões. Uma recompensa de R$ 50 mil foi anunciada para informações que levem à captura do olheiro, enquanto as armas usadas no crime, incluindo fuzis, foram encontradas próximas ao local. A execução também deixou um motorista morto por bala perdida.

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