Luta de classes tem dominado jogos universitários no Brasil; entenda

Atualizado em 25 de novembro de 2024 às 12:28
Estudantes da PUC-SP atacam alunos da USP durante jogos universitários. Foto: Reprodução

Jogos universitários têm evidenciado uma luta de classes entre alunos de faculdades privadas e públicas no país. Com cânticos preconceituosos e até racistas, estudantes ricos do ensino superior têm tentado humilhar alunos de outras instituições por motivos financeiros ou étnicos.

Em competições recentes, foram entoados versos como “federal, fala baixinho, quem tem 10 mil não envelhece no cursinho!” ou “eu sou solidário, pago seu curso e vou pagar o seu salário” por estudantes de faculdades particulares.

Os alunos de instituições públicas, por sua vez, responder com versos como “10 mil reais é o preço que se paga por não ter estudado mais” e “explode o seu cartão, na maior mensalidade, é lindo ver seu pai pagando a tua e a minha faculdade”.

Thamires Soares, aluna de direito da Uerj (Universidade Estadual do Rio de Janeiro) aprovada por cotas, afirma que já flagrou estudantes de uma instituição privada jogando notas falsas de dinheiro na quadra durante jogos universitários.

“Durante muito tempo, a gente, que é pobre e preto, não acessava a universidade pública. Agora que conseguiu, precisa vivenciar isso? Reforça o sentimento de não pertencimento”, afirma em entrevista ao g1.

Recentemente, um caso chamou atenção em Americana (SP), quando estudantes de direito da PUC-SP (A Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) usaram termos como “cotistas” e “pobres” para atacar alunos da USP (Universidade de São Paulo).

Flavio Venucini, professor da USP e membro do membro do laboratório de psicologia do esporte da Unesp de Rio Claro (SP), já foi técnico de um time universitário e afirma que esses conflitos “são seculares”.

“São muitas baladas, bebida alcoólica; as coisas vão ficando piores no avançar dos dias da competição. O ambiente já está contaminado, aí você soma isso com a privação de sono e os preconceitos existentes. A situação sai do controle. É um efeito manada”, relata.

Venucini afirma que os xingamentos eram ainda mais “pesados” há algumas décadas, com misoginia e outros palavrões, mas que a popularização de smartphones e das redes sociais diminuiu a incidência desses ataques.

“O conflito entre faculdades públicas e privadas sempre existiu. Mas vemos uma mudança de pauta. Os temas sensíveis foram modificados, sempre em função da vulnerabilidade de cada grupo. Agora, é focado em diminuir os cotistas ou, do outro lado, os ‘filhinhos de papai’. São ataques multilaterais”, prossegue.

Em 2018, durante uma competição em Petrópolis (RJ), alunos da PUC-Rio perderam o título de campeões após denúncias de que uma torcedora jogou uma casca de banana em direção a um atleta negro de instituição pública.

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