“Bolsonaro disse que não tinha coragem de dispersar golpistas em frente aos quartéis”, diz ex-aliado

Atualizado em 2 de dezembro de 2024 às 11:48
O deputado Otoni de Paula (MDB-RJ) e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Foto: reprodução

Atual vice-presidente da Frente Parlamentar Evangélica, o deputado ex-bolsonarista Otoni de Paula (MDB-RJ) afirmou, em entrevista ao Congresso em Foco, que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) não teve coragem de conversar com os manifestantes que estavam nas portas dos quartéis após sua derrota para o presidente Lula (PT) nas últimas eleições:

(…) O senhor foi um dos apoiadores mais verbais do ex-presidente Bolsonaro durante seu governo. Como ficou essa relação depois das eleições de 2022 e 2024?

A minha relação com o presidente Bolsonaro sempre foi muito próxima, mas eu sempre fui um amigo incômodo, eu sempre fui um amigo crítico. Por isso, volta e meia eu fui chamado de traidor pelo movimento bolsonarista. O movimento bolsonarista não tolera discordância: você tem que concordar com tudo, e eu não sou daqueles que concordam com tudo. Eu aponto os erros, eu faço alertas, assim como fiz ao sair do Alvorada após a nossa derrota nas urnas em 22.

Como foi esse encontro?

Encontrei o então presidente Bolsonaro muito abatido, e disse a ele: “presidente, nós temos que nos organizar como oposição agora”. Ele estava muito desnorteado pela derrota, estava muito desesperançoso. Tanto que houve um apagão no governo após esse segundo turno, ficamos praticamente 60 dias sem ter um governo atuando.

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manifestantes bolsonaristas concentram-se em frente ao Quartel- General do Exército em Brasília após derrota nas eleições. Foto: Wilton Junior

Eu estava preocupado com os patriotas que estavam nas portas dos quartéis, aqueles brasileiros ali. E eu disse: “Presidente, o senhor podia dar uma palavra para eles, porque não vai ter nada. A gente perdeu a eleição”. Ele disse que não tinha coragem de falar com os manifestantes. Foi quando falei em entrevista dizendo “saiam da porta dos quartéis, vocês serão presos”.

Todos me xingaram e me chamaram de traidor. E aí está o resultado: todo mundo preso, e a anistia dificilmente será aprovada.

A minha relação sempre foi muito transparente, mas o fato de eu ter feito esses dois movimentos, nas eleições gerais e agora nas eleições municipais, me afasta tanto dele quanto do Eduardo [Bolsonaro]. Até porque é uma ala muito radical. Eu sigo a minha vida de cabeça erguida. Sou um político de direita, conservador, mas entendo que política se faz com diálogo e não com ódio. (…)