Como Banco Central mudou estratégia para controlar o dólar nas gestões de Bolsonaro e Lula

Atualizado em 5 de dezembro de 2024 às 15:45
Fachada do Banco Central do Brasil. Foto: reprodução

O Banco Central do Brasil tem utilizado diferentes ferramentas para lidar com a valorização do dólar, uma estratégia que variou significativamente entre as gestões de Jair Bolsonaro (PL) e Lula (PT). Entre 2019 e 2022, sob a extrema-direita, o BC realizou 113 intervenções no mercado de câmbio à vista, totalizando US$ 74 bilhões vendidos. Já na gestão Lula, iniciada em 2023, houve apenas uma intervenção, em setembro de 2024, com uma venda de US$ 1,5 bilhão.

As intervenções no mercado à vista são apenas uma das formas de o BC atuar para controlar a volatilidade cambial. Durante o governo Bolsonaro, os anos de 2019 e 2020 concentraram as maiores vendas, com US$ 36 bilhões e US$ 24,7 bilhões, respectivamente. Essas operações foram impulsionadas por fatores como a queda da taxa Selic e os impactos econômicos da pandemia, que afetaram o fluxo cambial do país.

Segundo especialistas, essa mudança na postura mostra a dedicação do BC, sob o comando de Roberto Campos Neto, em contribuir com o governo de direita para controlar a alta do dólar. Enquanto isso, a atuação do Banco é discreta na gestão petista, mesmo com o real desvalorizado na relação de 6 para 1 com a moeda estadunidense.

Brasil perdeu reserva de dólares sob Bolsonaro

Embora ajudem a controlar a inflação, as constantes vendas de dólares na gestão Bolsonaro reduziram as reservas internacionais do Brasil. Em 2018, as reservas somavam US$ 374 bilhões, caindo para US$ 324 bilhões em 2022. No governo Lula, o número se recuperou parcialmente, chegando a US$ 360 bilhões em 2024.

O ex-presidente Jair Bolsonaro e Roberto Campos Neto, presidente do BC. Foto: reprodução

Outra ferramenta utilizada pelo BC são as operações de linha com recompra, em que dólares são vendidos com compromisso de recompra futura.

Em novembro de 2024, o BC vendeu US$ 4 bilhões nessa modalidade, a serem recomprados entre abril e junho de 2025. O saldo desse tipo de operação foi positivo sob Lula, com mais compras do que vendas, enquanto na gestão Bolsonaro houve saldo negativo de US$ 750 milhões.

Os contratos de swap cambial, que protegem investidores contra oscilações no câmbio, também tiveram papel relevante. Entre 2019 e 2022, o saldo desses contratos cresceu 46%, passando de US$ 68,8 bilhões para US$ 100 bilhões. No governo Lula, o aumento foi de apenas 2%, alcançando US$ 102,8 bilhões até outubro de 2024.

Especialistas apontam que a alta do dólar para R$ 6 em 2024 reflete, em grande parte, a percepção de risco fiscal do Brasil, ligada à alta da dívida pública. Silvio Campos Neto, da Tendências Consultoria, destaca que uma eventual intervenção poderia conter momentaneamente a pressão sobre a moeda, mas não resolveria o problema estrutural, como aconteceu no governo anterior.

O diretor de política monetária do BC, Gabriel Galípolo, indicado para presidir a instituição em 2025, afirmou que segurar o dólar “no peito” não é uma solução viável. Segundo ele, é necessário um equilíbrio entre a política monetária e fiscal para enfrentar os desafios cambiais.

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