Quanto Bolsonaro recebeu por joias vendidas nos EUA, segundo delação

Atualizado em 19 de fevereiro de 2025 às 12:57
O ex-presidente Jair Bolsonaro e o delator Mauro Cid. Foto: Caio Rocha/iShoot/Agência O Globo

O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), afirmou em sua delação premiada que repassou US$ 86 mil, mais de R$ R$ 446 mil na cotação do final de 2022, em espécie ao ex-mandatário após a venda de relógios de luxo e joias recebidos como presentes durante o governo.

Os valores foram obtidos com a venda de um relógio Rolex, um Patek Philippe e um kit de joias da marca Chopard, e entregues a Bolsonaro de forma parcelada e em dinheiro vivo, segundo o depoimento de Cid à Polícia Federal (PF). O caso é alvo de um inquérito que investiga Bolsonaro por peculato, crime de apropriação indevida de bens públicos.

De acordo com a delação, os relógios foram vendidos para a loja Precision Watches, na Filadélfia, nos Estados Unidos, por US$ 68 mil, enquanto o kit de joias Chopard foi negociado por US$ 18 mil em uma loja do Seybold Jewelry, em Miami.

Cid detalhou que os pagamentos foram feitos na conta de seu pai, o general Mauro Cesar Lourena Cid, que morava nos EUA, e depois repassados a Bolsonaro em espécie, “de forma a evitar que circulasse no sistema bancário normal”.

No documento com a delação tornada pública pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), nesta quarta-feira (19), consta o relato de Cid dizendo:

“QUE o pagamento foi realizado em espécie sem emissão de nota: QUE não há registro da venda dos referidos bens: QUE em seguida retornou ao Brasil com os valores em espécie; QUE ao retornar ao Brasil entregou os US$ 18 mil ao ex-Presidente JAIR BOLSONARO; QUE apenas retirou os custos que teve com passagem aérea e aluguel do veículo; QUE o COLABORADOR ajustou com seu pai, General MAURO CESAR LOURENA CID, que o saque dos US$ 68 mil ocorreria de forma fracionada e entregue à medida que alguém conhecido viajasse dos Estados Unidos ao Brasil”.

Cid também descreveu como os valores foram entregues a Bolsonaro em diferentes ocasiões. Durante uma visita do ex-presidente a Miami, ele repassou US$ 18 mil em espécie. Outros US$ 30 mil foram entregues durante a participação de Bolsonaro na Assembleia Geral da ONU, em Nova York. “QUE na cidade de Nova York, LOURENA CID entregou cerca de US$ 30 mil (trinta mil dólares) em espécie, a JAIR BOLSONARO, por meio do COLABORADOR”.

Lourena Cid, o pai de Mauro Cid, aparece no reflexo de joias vendidas nos EUA. Foto: reprodução

No final de 2022, o general Lourena Cid viajou ao Brasil para um evento da APEX, em Brasília, e trouxe consigo US$ 10 mil em espécie, que foram repassados a Bolsonaro.

As parcelas restantes foram entregues em fevereiro e março de 2023, totalizando os US$ 86 mil. Segundo Cid, os pagamentos finais foram intermediados por Osmar Crivelatti, assessor direto de Bolsonaro, e os valores foram repassados “em sua totalidade ao ex-Presidente”.

O caso integra um inquérito da Polícia Federal que investiga Bolsonaro por peculato, crime que consiste na apropriação indevida de bens públicos. Os relógios e joias em questão foram recebidos pelo ex-presidente como presentes durante sua gestão, mas, de acordo com a legislação brasileira, bens recebidos por autoridades em representação do Estado devem ser incorporados ao patrimônio público.

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Augusto de Sousa
Augusto de Sousa, 31 anos. É formado em jornalismo e atua como repórter do DCM desde de 2023. Andreense, apaixonado por futebol, frequentador assíduo de estádios e tem sempre um trocadilho de qualidade duvidosa na ponta da língua.