O diretor artístico Vinicius Coimbra, responsável pela novela “Nos Tempos do Imperador”, afirmou que a recente condenação da TV Globo a pagar R$ 500 mil à atriz Roberta Rodrigues por assédio moral e racismo institucional comprova que o problema estava relacionado a práticas da emissora, e não à sua conduta pessoal. A decisão judicial foi proferida pela juíza Aline Gomes Siqueira, do TRT-1, que identificou um ambiente de trabalho marcado por práticas discriminatórias durante as gravações da trama.
“Alguns jornalistas sensacionalistas me colocam como o responsável pelo que aconteceu na novela. Então, essa reparação é importante de ser feita. A questão deles [dos atores negros] era com a Globo, não comigo”, declarou Coimbra em entrevista à Folha de S.Paulo, afirmando que foi “moído” na emissora ao tentar intermediar as queixas.
O caso foi revelado em fevereiro de 2022, quando a jornalista Mônica Bérgamo noticiou a denúncia de racismo nos bastidores da produção, que foi ao ar entre agosto de 2021 e fevereiro do ano seguinte.
O diretor explicou que o principal ponto de conflito foi uma reunião que convocou apenas com o elenco negro da novela. “Por mais de duas horas, eles falaram dezenas de coisas que eu nem imaginava e que não se relacionavam com o meu trabalho e com a minha equipe. Eram questões de produção, questões salariais [diferenças na remuneração entre atores brancos e negros], de falta de apoio psicológico para algumas cenas, uma série de coisas”.
Coimbra reconheceu que a iniciativa causou desconforto: “Por melhor que tenham sido as minhas intenções, [a reunião] acabou gerando um desconforto em algumas pessoas. Entendo esse desconforto”.
Ainda assim, ele defendeu o propósito do encontro: “Achei que a reunião teve um benefício maior, que foi coletar aquelas informações [de insatisfação do grupo] e levar para os departamentos necessários, servir de ponte entre aquele elenco e a empresa”.
A novela havia sido criticada por uma cena que sugeria “racismo reverso”, quando uma personagem branca teria sido segregada por negros. A autora da trama chegou a pedir desculpas públicas pelo episódio. A Globo, por sua vez, negou as acusações no processo judicial, afirmando que não houve discriminação racial e que Roberta Rodrigues continuou atuando em outras produções após o término da novela.
Coimbra descreveu sua experiência como uma “tempestade perfeita”: “Os atores tinham reivindicações que me pareciam muito legítimas, e acho que a Globo teve uma postura de tentar sanar aquelas questões. Entrei no meio, tentando mediar esses dois lados, e acabei sendo moído na fricção”. Um mês após ser tornado público, ele foi demitido pela emissora sob alegação de assédio moral, mas afirma nunca ter recebido explicações concretas sobre os motivos.
“Quando você é considerado racista publicamente, pode imaginar o que acontece com a sua família. Meu casamento se desfez, eu tinha trabalhos já engatilhados que foram cancelados”, lamentou.
À Folha, Coimbra afirmou ter encontrado um novo caminho profissional, desenvolvendo projetos sociais no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, incluindo a websérie “É o Complexo” (2022) e uma trilogia de filmes baseada em composições de Chico Buarque.
“Acho que a novela trouxe à tona uma questão que era muito mais antiga. Eles foram discriminados por anos. Não só na Globo, mas em qualquer lugar que eles pisassem, existia um tratamento diferenciado, que está sendo corrigido, graças a Deus”, refletiu o diretor, destacando avanços na representatividade negra na televisão.
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