Sakamoto: 51% do ato em SP quer Bolsonaro com tratamento diferente de quem foi ao 8/1

Atualizado em 8 de abril de 2025 às 11:45
Manifestantes dão destaque a batom em ato de Bolsonaro na Avenida Paulista – Foto: Eduarda Esteves

Por Leonardo Sakamoto, no UOL

Pesquisa realizada entre os presentes na avenida Paulista, neste domingo (6), na manifestação pela anistia a quem participou de atos golpistas aponta que 51% defendem tratamento diferenciado entre manifestantes que participaram do 8 de janeiro de 2023 e as lideranças políticas. Outros 44% defendem que ambos os grupos deveriam ser tratados de maneira igual.

“A maioria acredita que uma eventual anistia não deva dar um tratamento homogêneo para lideranças como Jair Bolsonaro e os generais e os manifestantes comuns do 8 de janeiro. Isso mostra um desacordo entre a abordagem do PL da Anistia e o que pensa a base militante”, afirma Pablo Ortellado, professor de Políticas Públicas da USP e um dos responsáveis pelo levantamento.

O ex-presidente Jair Bolsonaro durante discurso em ato pró-anistia na Avenida Paulista, neste domingo (6) – Foto: Reprodução

O levantamento, feito pelo Monitor do Debate Político do Cebrap e da USP e pela ONG More in Common, ouviu 567 pessoas entre 14h e 17h, com margem de erro de 4 pontos percentuais. O mesmo grupo calculou em 44,9 mil pessoas o número de presentes no ato de domingo.

“Um dos resultados mais surpreendentes é que o apoio a uma anistia ampla, que inclua quem participou de violência ou vandalismo, tem apoio apenas de 46% no público ativista da manifestação”, diz Ortellado.

Quando se trata dos manifestantes que não cometeram atos violentos, o apoio à anistia chega a 90%, com apenas 3% discordando da medida. Já para os que participaram de atos de vandalismo, a rejeição salta para 18% de discordância total, com outros 12% discordando parcialmente.

O perfil dos participantes do ato mostra um público majoritariamente masculino (67%), branco (72%), com alto nível de escolaridade (75% possuem ensino superior completo ou incompleto) e de renda familiar elevada – 49% declararam ganhar mais de cinco salários mínimos. A faixa etária predominante está entre 45 e 64 anos (51% do total), e a autoidentificação política é esmagadoramente de direita (88%), com apenas 1% se declarando de esquerda. Em questões de costumes, 96% se consideram conservadores (69% “muito conservadores” e 27% “um pouco conservadores”).

Religiosamente, os católicos são maioria (47%), seguidos por evangélicos (27%) e espíritas/kardecistas (8%), com 9% declarando não ter religião. A distribuição por faixa de renda mostra que apenas 11% dos manifestantes ganham até dois salários mínimos, enquanto 27% estão na faixa de cinco a dez salários e 6% declaram renda familiar superior a 20 salários mínimos.

Os resultados sugerem que, mesmo entre os participantes de um ato explicitamente convocado para defender a anistia, há significativas nuances na avaliação sobre quem merece ou não ser beneficiado.

Enquanto o apoio às lideranças políticas é amplo, a aceitação do perdão para quem cometeu atos violentos encontra resistência mesmo dentro deste grupo. A distinção feita pelos manifestantes entre diferentes categorias de envolvidos pode alimentar debates sobre os limites e critérios para eventuais medidas de perdão no futuro.

A pesquisa também levanta questões sobre a representatividade do movimento, dado o perfil socioeconômico claramente privilegiado dos participantes em comparação com a média da população brasileira. Com 75% dos entrevistados tendo algum nível de ensino superior e apenas 11% ganhando até dois salários mínimos, o ato reuniu um público significativamente mais escolarizado e abastado do que a média nacional.

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