Jornalistas da Globo se calam sobre corrupção na CBF e censura a colegas

Atualizado em 10 de abril de 2025 às 11:13
Paulo Calçade, Gian Oddi, William Tavares, Vitor Birner e Pedro Ivo Almeida durante a edição da última segunda (7) do “Linha de Passe”, na ESPN. Foto: Reprodução

O escândalo revelado pela revista piauí sobre os desmandos e as extravagâncias da gestão Ednaldo Rodrigues à frente da CBF é devastador. É a prova cabal de que a entidade que deveria zelar pelo futebol brasileiro se transformou, mais uma vez, num balcão de negócios pessoais, favores políticos e luxos bancados com dinheiro do esporte.

E, diante da gravidade das denúncias — que incluem censura à imprensa, desperdício milionário de recursos e absoluto desprezo pela estrutura do futebol nacional —, o silêncio de parte significativa da imprensa esportiva é tão escandaloso quanto os atos do próprio dirigente.

Enquanto seis jornalistas da ESPN — Gian Oddi, Paulo Calçade, Victor Birner, Pedro Ivo Almeida, Dimas Coppede e William Tavares — foram afastados pela emissora após um Linha de Passe crítico à gestão de Ednaldo, atendendo a pressões da CBF em plena negociação de direitos da Série B, a maioria dos programas esportivos dos canais Globo optou por fingir que nada aconteceu.

Redação SporTV, Globo Esporte, Seleção SporTV: todos silenciaram. Nenhuma linha, nenhuma análise, nenhuma indignação. Um pacto de omissão que envergonha o jornalismo esportivo brasileiro.

Onde estão André Rizek, Marcelo Barreto e tantos outros que se apresentam como vozes da crítica e da razão no debate esportivo? Por que não defenderam publicamente os colegas censurados? Por que evitaram discutir uma reportagem que detalha como Ednaldo bancou passagens em primeira classe, hotéis cinco estrelas e diárias milionárias para 49 pessoas sem vínculo com a CBF durante a Copa do Mundo?

Por que não se escandalizam com o presidente que morou nove meses no Grand Hyatt com tudo pago pela entidade? Com os salários dos presidentes de federação saltando para R$ 215 mil? Com o “décimo sexto salário”? Com as dívidas protestadas mesmo diante de uma receita bilionária?

O jornalista André Rizek na TV Globo. Foto: Reprodução

Rizek, aliás, foi bastante cobrado ontem em suas redes sociais. Mas, aparentemente, não tinha nada para falar.
Enquanto Ednaldo promove banquetes às custas do futebol, a arbitragem nacional está sucateada. Árbitros sem treinamento adequado, afastamentos em massa por erros técnicos, campeonatos marcados por polêmicas grotescas. O VAR é um caos, a credibilidade está no chão — mas tudo isso parece pequeno diante da conveniência de não contrariar um presidente que tem fama de vingativo e influência sobre contratos bilionários de transmissão.

Essa combinação de poder político, subserviência institucional e silêncio midiático é mortal para o futebol brasileiro. A CBF virou uma ilha de privilégios, cercada por bajuladores e blindada por parte da imprensa. A poucos interessa confrontar um sistema viciado que se retroalimenta com silêncio, medo e conveniência.

A omissão de quem tem espaço, voz e responsabilidade é uma escolha. E, nesse momento, os que se calam diante da censura, da corrupção e do abuso de poder se colocam do lado errado da história do nosso futebol. O torcedor merece mais. O futebol brasileiro merece mais. Mas enquanto Ednaldo desfila com sua corte — e jornalistas fingem que não veem —, seguimos reféns de um jogo que acontece fora das quatro linhas, onde quem perde é sempre o esporte.

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Luan Araújo
Jornalista formado em 2012, morador da periferia da Zona Leste de São Paulo, sambista e corintiano.