
A série argentina “O Eternauta” se tornou a produção de língua não inglesa mais assistida da Netflix, mas seu sucesso não tem agradado aos apoiadores de Javier Milei.
Lançada há duas semanas, a adaptação da clássica HQ dos anos 1950 alcançou 10,8 milhões de visualizações em todo o mundo e lidera o Top 10 global da plataforma, figurando entre as mais vistas em 87 países, incluindo Brasil, EUA e França.
A obra, protagonizada por Ricardo Darín e dividida em seis episódios, narra a resistência de pessoas comuns contra uma invasão alienígena em uma Buenos Aires devastada.
A trama, que sempre teve leitura política, volta a ganhar força em um momento de ataques sistemáticos à cultura argentina. O diretor Bruno Stagnaro não poupou críticas ao cenário atual: “Podemos enfrentar como comunidade artística qualquer desafio que se apresente”, afirmou, numa referência direta aos cortes promovidos por Milei no setor.
A revolta da direita se intensificou após a repercussão da série. Para aliados do presidente, a obra seria “um panfleto esquerdista disfarçado de ficção científica”. O incômodo se dá, principalmente, pelo protagonismo dado à coletividade e à organização popular — ideias abertamente combatidas pelo discurso individualista e privatista de Milei.
O próprio quadrinista Héctor Oesterheld, morto pela ditadura argentina, sempre defendeu uma visão política voltada à justiça social, o que torna a adaptação ainda mais sensível no atual momento.
Além de exaltar o espírito coletivo, “O Eternauta” se destaca pelo alto nível de produção mesmo em meio à crise da indústria cultural, enfraquecida pelas decisões do governo.
Para Stagnaro, isso mostra que ainda existe capacidade técnica e criativa no país, apesar da precarização imposta por políticas ultraliberais. A reação contrária do campo conservador só ampliou o interesse pela série, transformando-a também em símbolo de resistência cultural.
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