Nova pandemia? Conheça os perigos da gripe aviária

Atualizado em 16 de maio de 2025 às 13:52
Galinhas em granja comercial.
Foto: Arquivo/Agência Brasil

Na quinta-feira (15), o Brasil registrou seu primeiro foco de influenza aviária de alta patogenicidade (IAAP), mais conhecida como gripe aviária. O fato se deu em uma granja comercial em Montenegro, na Região Metropolitana de Porto Alegre (RS). A detecção do vírus foi confirmada pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) e marca a primeira vez em que ele atinge o sistema de avicultura comercial no país. O governo decretou emergência zoossanitária por 60 dias em um raio de 10 km ao redor do foco e medidas de contenção da doença estão sendo colocadas em prática.

A gripe aviária é causada pelo vírus influenza A, subtipo H5N1, que afeta aves como galinhas, patos e perus. Dividida em baixa patogenicidade (LPAI) e alta patogenicidade (HPAI), a variante detectada no Brasil é a mais grave, caracterizada por alta mortalidade e rápida disseminação.

Os sintomas em animais incluem depressão, problemas respiratórios, cianose, necrose na crista e barbela, além de queda na produção de ovos, e deformação ou deficiência nas cascas. A doença, identificada pela primeira vez na Itália em 1878, circula globalmente desde 2006, com surtos significativos na Ásia, África e Europa, mas teve seus primeiros casos registrados em solo brasileiro apenas em 2023.

A transmissão do vírus ocorre principalmente por contato direto com aves infectadas e suas secreções (fezes, saliva, secreções nasais), ou superfícies contaminadas. Aves migratórias também influenciam na introdução do vírus a novas regiões.

O risco à saúde humana é considerado baixo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Mapa, com infecções ocorrendo raramente, geralmente em trabalhadores com contato próximo a aves infectadas, como tratadores ou profissionais de abatedouros.

Os sintomas em pessoas variam de leves, como febre e tosse, a graves, incluindo pneumonia e síndrome respiratória aguda, com taxa de mortalidade global de cerca de 50% (950 casos humanos e aproximadamente 475 mortes desde 2003, segundo a OMS). Não há registro de transmissão entre humanos, o que reduz o risco de pandemia, mas a vigilância é recomendada.

Produção de ovo em granja de Arapongas (PR) – Gilson Abreu/AEN

O infectologista Leonardo Weissmann, do Instituto de Infectologia Emilio Ribas, em São Paulo, destaca a importância do monitoramento: “Até o momento, a transmissão sustentada de gripe aviária entre humanos não foi comprovada. Casos raros de transmissão ocorreram em situações de contato muito próximo, mas sem propagação adiante.

A maior preocupação é com mutações que possam facilitar a infecção humana, o que exige vigilância contínua.” Weissmann reforça que o consumo de carne de frango e ovos bem-preparados é seguro, conforme atestado pelas autoridades sanitárias.

As medidas de contenção no Brasil incluem o sacrifício de aves infectadas, desinfecção rigorosa das instalações com hipoclorito a 1% por 21 dias e isolamento da área afetada. O Serviço Veterinário Brasileiro implementa ações como monitoramento de aves silvestres, vigilância epidemiológica e controles rigorosos em portos e aeroportos, que atrasaram a chegada da doença ao setor comercial por quase duas décadas. A Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) afirmou que a situação está sob controle.

O impacto econômico é uma preocupação central, porém. O Brasil é o maior exportador mundial de carne de frango, com faturamento de U$10 bilhões em 2024, mas agora enfrenta restrições de mercados como China (principal compradora) e União Europeia, que suspenderam importações de todo o país, enquanto outros, como Japão e Arábia Saudita, limitam apenas a região afetada, o Rio Grande do Sul, que é responsável por 15% da exportação do setor. O governo negocia protocolos para minimizar embargos e proteger o setor.

Um avanço promissor é o desenvolvimento de uma vacina contra a gripe aviária no Brasil, ainda em estudos iniciais. Embora a vacinação em aves seja usada em países como a China, a Embrapa aponta que ela não elimina completamente o vírus, e focos persistem. A pesquisa brasileira busca uma solução eficaz para proteger granjas comerciais, reduzindo a dependência de medidas drásticas como o abate em massa. Contudo, a aplicação comercial da vacina ainda está distante, exigindo testes rigorosos de segurança e eficácia.

O conceito de Saúde Única, que integra saúde humana, animal e ambiental, é enfatizado pela OMS como estratégia de prevenção. A circulação do vírus em aves migratórias e a possibilidade de mutações, especialmente em porcos (que podem combinar influenza humana e aviária), reforçam a necessidade de vigilância global. No Brasil, a interdição de locais como o Zoológico de Sapucaia do Sul, onde houve mortalidade de aves, e a investigação em um raio de 10 km do foco em Montenegro são exemplos de ações preventivas.