
Os professores Marci Shore, Timothy Snyder e Jason Stanley, da Universidade Yale, em New Haven, Connecticut, são reconhecidos por suas pesquisas sobre autoritarismo no mundo. Agora, eles decidiram deixar os Estados Unidos e seus cargos na tradicional instituição, fundada em 1701, para lecionar no Canadá. Alegam que o país enfrenta uma “emergência democrática” diante do avanço do fascismo.
“Estamos como as pessoas no Titanic dizendo: ‘Nosso navio não pode afundar. Temos o melhor navio. O mais forte’”, afirmou Marci Shore em um vídeo publicado pelo New York Times. “E o que se sabe como historiadora é que não existe navio que não possa afundar.” No mesmo vídeo, ela também fez referência à Alemanha nazista: “A lição de 1933 é sair antes que seja tarde.”
As saídas dos três professores ocorrem no momento em que Donald Trump, novamente presidente, intensifica sua ofensiva contra o ensino superior. Em março, o Departamento de Educação abriu investigações contra dezenas de universidades por seus programas de diversidade, equidade e inclusão.
Nas últimas semanas, o governo também cortou repasses para várias instituições de elite sob alegações de antissemitismo, em reação aos protestos pró-Palestina ocorridos no ano anterior. Nesta semana, anunciou o corte de mais US$ 450 milhões em verbas para a Universidade de Harvard, além dos US$ 2,2 bilhões que já estavam congelados.
Jason Stanley disse que teme ser perseguido por suas opiniões caso permanecesse no país. “Vou para a Universidade de Toronto porque quero poder trabalhar sem medo de ser punido pelas minhas palavras.” Ele afirmou que, em tempos de fascismo, é “essencial criar centros de resistência em lugares relativamente seguros.”
Timothy Snyder, embora compartilhe das mesmas preocupações, declarou que sua saída não está ligada diretamente a Trump. Entre os motivos pessoais, está seu casamento com Marci Shore. Em texto para o jornal Yale Daily News, ele disse que “conversas sobre liberdade e ausência de liberdade” têm se tornado mais difíceis nos EUA.
Autor do livro “Sobre a Tirania”, Snyder também alertou os que acreditam que o fascismo é um problema externo: “Falar em excepcionalismo americano é basicamente uma forma de fazer as pessoas se conformarem.” Segundo ele, essa crença leva à apatia: “Se você acha que existe algo chamado ‘América’ e que é excepcional… então não precisa fazer nada, qualquer coisa que esteja acontecendo deve ser liberdade. E aí sua definição de liberdade vai se estreitando… até que você continua dizendo ‘liberdade’, mas está falando, na verdade, de autoritarismo.”