
A Polícia Federal (PF) pretende chamar Jair Bolsonaro (PL) para prestar explicações sobre o telefonema feito pelo ex-presidente ao senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS) na véspera do depoimento do general ao Supremo Tribunal Federal (STF) no inquérito do golpe.
“Existe grande chance de ele ser ouvido”, afirmou uma fonte da cúpula da PF, sob reserva, ao colunista Igor Gadelha, do Metrópoles.
Bolsonaro ligou para Mourão na semana passada, antes da oitiva. De acordo com o militar, Bolsonaro pediu que o senador ressaltasse ao ministro Alexandre de Moraes, no STF, alguns pontos que o ex-presidente considerava importantes.
O telefonema, no entanto, foi mal visto por ministros do STF e integrantes da Procuradoria-Geral da República (PGR) e da PF. A avaliação é de que o ex-capitão pode ter incorrido em crime de obstrução de Justiça, caso tenha coagido Mourão.
Além disso, nos próximos dias, a corporação já ouvirá Bolsonaro no inquérito que investiga o deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) por tentar convencer, nos Estados Unidos, o governo de Donald Trump a adotar medidas contra o ministro Alexandre de Moraes.

Prisão?
A ligação de Bolsonaro para Mourão também pode agravar a situação do ex-presidente e até levá-lo à prisão.
Na avaliação de juristas, ministros de tribunais superiores e magistrados federais, o contato entre Bolsonaro e Mourão compromete a credibilidade do depoimento do senador, já que pode indicar tentativa de orientação, manipulação ou até coação de uma testemunha.
O ato de ligar para uma testemunha de defesa com o objetivo de influenciar o conteúdo do depoimento pode ser interpretado como tentativa de obstrução de Justiça, de acordo com especialistas. Caso fique comprovado que Bolsonaro tentou interferir na fala de Mourão, a medida pode ser considerada criminosa.
Além disso, se for demonstrado que o senador mentiu à Corte, ele também pode ser responsabilizado por perjúrio, crime conhecido como falso testemunho.