Criança americana é deportada com os pais para o Brasil e fica sem direitos básicos

Atualizado em 29 de maio de 2025 às 23:45
Emanuelly Borges Santos sorrindo, sentada em cama com objetos cor de rosa
A menina norte-americana Emanuelly Borges Santos – Reprodução

Emanuelly Borges Santos, de 2 anos, nasceu nos Estados Unidos, mas foi deportada em fevereiro deste ano junto com os pais, Elioni Gonçalves e Edivan Borges dos Santos, que estavam em situação migratória irregular. A menina, cidadã americana, entrou no Brasil como turista e agora vive sem acesso pleno a serviços básicos, como saúde e educação. Com informações da Folha de S.Paulo.

A situação de Emanuelly, chamada de Manu, expõe falhas no sistema migratório dos EUA. Mesmo sendo americana, ela foi incluída em um voo de deportação e agora enfrenta um impasse jurídico no Brasil: não é cidadã brasileira nem residente legal. Sem registro consular, não pode ser naturalizada e vive com visto de turista prestes a vencer.

O caso ocorreu em meio ao endurecimento da política migratória do governo Trump, que prevê a deportação de 1 milhão de imigrantes até o fim do ano. Segundo autoridades americanas, pais em situação irregular são questionados se querem manter os filhos consigo ou deixá-los com alguém designado. Mas Gonçalves e Borges afirmam que não foram informados corretamente e assinaram documentos em inglês sem entender o conteúdo.

Após a deportação, a família desembarcou em Fortaleza. Segundo a Polícia Federal, o nome da criança constava entre os 94 deportados, mas ela só tinha passaporte americano e um cartão da seguridade social dos EUA. “Nunca vimos um caso assim”, afirmou a agente federal Alexsandra Oliveira Medeiros Reis.

A Defensoria Pública do Ceará agora tenta resolver o impasse. Como Manu não nasceu no Brasil nem foi registrada em consulado, não tem direito automático à cidadania brasileira. A solução discutida seria criar uma “cidadania temporária” até os 18 anos. Por enquanto, Manu é considerada apenas uma turista.

Emanuelly Borges Santos correndo em corredor entre duas casas
Emanuelly Borges Santos na casa dos avós, em MG – Reprodução/TWP

O advogado da família, que não quis se identificar, criticou a deportação e afirmou que o governo dos EUA violou suas próprias leis ao enviar uma cidadã americana para fora do país. Juízes também têm condenado esse tipo de ação.

Um magistrado da Louisiana classificou como “ilegal e inconstitucional” a deportação de crianças americanas, citando outro caso semelhante ocorrido recentemente com uma menina de 2 anos enviada a Honduras.

A história da família começou em 2021, quando, pressionados pela crise da pandemia e dificuldades financeiras, decidiram migrar para os EUA via México. Eles se entregaram à imigração na fronteira do Arizona e pediram asilo. Enquanto aguardavam a resposta, se estabeleceram na Flórida e Borges passou a trabalhar na construção civil.

Em 2022, Manu nasceu. A família vivia com relativa estabilidade, apesar das restrições. Mas em dezembro daquele ano, receberam uma ordem de deportação. Os documentos brasileiros foram recolhidos, o que impediu o registro consular de Manu no Brasil. Em fevereiro de 2025, foram convocados para uma reunião no ICE, na Flórida, e acabaram deportados.

Hoje, Gonçalves vive com a filha em Minas Gerais. Ela tenta manter o inglês da filha vivo com vídeos infantis, mas lamenta o isolamento. Sem acesso à escola e com o pai trabalhando longe, Manu tem pouco contato com outras crianças. “Ela não é brasileira. É uma turista”, resume o defensor público Edilson Santana.

O caso continua sem solução definitiva.