
O general da reserva Augusto Heleno teve seu depoimento interrompido pelo próprio defensor, o advogado Matheus Milanez, no Supremo Tribunal Federal (STF) nesta terça-feira (10). “A pergunta é só ‘sim’ ou ‘não’, desculpa”, disse o advogado, ao ver Heleno se estender na resposta sobre o uso da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para produzir relatórios falsos nas eleições de 2022.
A bronca gerou surpresa no ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), que sorriu e respondeu: “Porra, desculpa”.
O ministro Alexandre de Moraes, relator do processo na Primeira Turma do STF, não deixou passar o momento. “Não fui eu, general Heleno, que fique nos anais aqui do Supremo, foi o seu advogado”, disse, arrancando risos. Durante os testemunhos, as intervenções mais ríspidas do magistrado foram apontadas como “autoritárias” na narrativa bolsonarista.
O advogado agradeceu e reforçou que o general responderia apenas com “sim” ou “não”. A defesa já havia avisado no início da audiência que Heleno permaneceria em silêncio diante das perguntas da acusação e só falaria quando questionado por seus advogados.
▶️ Advogado de Heleno tem dificuldade para controlar narrativa de cliente: “Responda sim ou não” pic.twitter.com/RGgefcwp3l
— Metrópoles (@Metropoles) June 10, 2025
Heleno também se comprometeu ao depor sobre a defesa de ações ilegais, como golpe de Estado. No início do depoimento, Milanez avisou a Moraes que seu cliente não responderia as perguntas do ministro.
A estratégia falhou quando o bolsonarista afirmou que não cogitou a tentativa de golpe por “não haver possibilidade”, indicando que houve sim conversas sobre o tema. O deslize corrobora a delação premiada de Mauro Cid e o depoimento do almirante Almir Garnier, ex-comandante da Marinha que confessou que o ex-presidente estava “estudando” o rompimento de democracia.
Augusto Heleno tinha uma missão: seguir o roteiro combinado com o advogado. No entanto, o espírito golpista sempre se impõe e, ao ser perguntado se teria cogitado algo ilegal, diz que “não havia oportunidade”.
Só dá pra gente inferir que, se tivesse oportunidade, teria feito. pic.twitter.com/sBWgAc5nok
— William De Lucca (@delucca) June 10, 2025
A oitiva do general faz parte da fase final da instrução processual no processo que investiga uma tentativa de golpe de Estado para impedir a posse de Lula em 2023. A ação atinge nomes centrais do governo Bolsonaro, incluindo o próprio ex-presidente, acusado de chefiar uma organização criminosa com objetivo de romper a ordem democrática. Segundo a PGR, os réus formam o “núcleo crucial”, considerado crucial na articulação golpista.
O julgamento do “núcleo 1”, separado assim pela Procuradoria-Geral da República (PGR), começou por Cid dado o seu acordo de delação premiada. Após o militar, os demais investigados, incluindo o ex-presidente Bolsonaro, vão depor seguindo uma ordem alfabética, sendo:
– Alexandre Ramagem (ex-diretor da Abin), que já depôs;
– Almir Garnier Santos (ex-comandante da Marinha), que já depôs;
– Anderson Torres (ex-ministro da Justiça), que já depôs;
– Augusto Heleno (ex-GSI), que já depôs;
– Jair Bolsonaro (ex-presidente);
– Paulo Sérgio Nogueira (ex-Defesa);
– Walter Braga Netto (ex-Casa Civil).
Braga Netto, único que não estará presente fisicamente por estar preso no Rio, será interrogado por videoconferência com sua imagem exibida em telão.
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