Bolsonaro prepara arapuca para desmoralizar Cid no STF; entenda

Atualizado em 10 de junho de 2025 às 13:20
O ex-presidente Jair Bolsonaro e o tenente-coronel Mauro Cid. Foto: reprodução

Um momento revelador, mas pouco notado, marcou o depoimento do tenente-coronel Mauro Cid ao Supremo Tribunal Federal (STF) na última segunda-feira (9). Durante o interrogatório sobre a investigação da tentativa de golpe em 2022, o advogado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Celso Vilardi, fez uma pergunta aparentemente casual, mas estrategicamente calculada: questionou Cid sobre o uso de um perfil no Instagram não registrado em seu nome para discutir aspectos da delação premiada.

“Eu quero saber se ele fez uso em algum momento para falar de delação de um perfil no Instagram que não está no nome dele”, indagou Vilardi. O militar respondeu com hesitação: “Não”. O ministro Alexandre de Moraes, relator do caso, interveio para esclarecer a qual perfil o advogado se referia. Vilardi então ampliou a pergunta: “Eu queria saber se ele nunca usou perfil de mídia social para falar com alguém”.

Cid justificou sua negativa afirmando que todos os seus celulares haviam sido “apreendidos e revirados de ponta cabeça” pela Polícia Federal, mas a insistência de Vilardi trouxe à tona um nome específico: “@gabrielar702”.

O militar, visivelmente desconfortável, gaguejou: “Esse perfil não sei se é da minha esposa. Mas Gabriela é o nome da minha esposa”.

A “arma secreta” da defesa de Bolsonaro

Nos bastidores, a conta @gabrielar702 é tratada como uma peça-chave na estratégia da defesa do ex-presidente. Segundo Malu Gaspar, do Globo, fontes próximas ao caso revelam que Cid de fato utilizou esse perfil para conversas com diversos interlocutores, abordando temas que ainda não vieram à tona no processo, e que poderiam comprometer sua posição como colaborador da Justiça.

A abordagem de Vilardi teve como objetivo claro colocar Cid sob pressão, expondo uma possível vulnerabilidade em seu acordo de delação premiada. O fato de o militar ter hesitado em suas respostas sugere que o tema é sensível e pode ter implicações ainda não exploradas no inquérito.

O depoimento de Cid é parte crucial da fase de instrução do processo que apura a tentativa de golpe após as eleições de 2022. O tenente-coronel, que foi ajudante de ordens de Bolsonaro, já confirmou diversos pontos da denúncia do Ministério Público, incluindo a existência de uma “minuta do golpe” e pressões sobre as Forças Armadas para contestar os resultados eleitorais.