
O ex-ministro da Justiça Anderson Torres foi ouvido nesta terça-feira (10) pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no processo sobre a tentativa de golpe após as eleições de 2022. Em um depoimento marcado por contradições e embates com os ministros, Torres manteve a estratégia de se distanciar de qualquer articulação antidemocrática, mas reconheceu ter “falhado na polidez” em declarações sobre o pleito.
O ex-ministro foi confrontado sobre sua declaração em reunião ministerial de que “todos vão se f*” se Bolsonaro perdesse. “Faltei com a polidez”, admitiu, alegando que queria apenas “pedir empenho” aos colegas.
“O que eu quis dizer com isso, é que se nós perdêssemos a eleição, tudo o que foi construído no governo do presidente Bolsonaro seria perdido. Todo o nosso trabalho seria perdido, era a minha visão”, justificou. “Talvez eu não tenha usado as melhores palavras”.
Anderson Torres pede desculpas a Moraes por xingamentos em reunião ministerial sobre golpe: ‘Faltei com a polidez’ pic.twitter.com/tjpxC6Qn5E
— Estadão 🗞️ (@Estadao) June 10, 2025
Um dos momentos mais aguardados foi a explicação de Torres sobre o documento encontrado em sua casa que esboçava medidas para anular as eleições. “Foi deixada em minha mesa e foi parar em casa”, afirmou, alegando que recebia muitos documentos diariamente e que a minuta teria sido levada para ser destruída.
A justificativa foi recebida com ceticismo pelos ministros, especialmente porque o texto foi preservado intacto.
Torres também negou conhecer o analista de inteligência responsável por mapear redutos eleitorais de Lula, que teriam embasado blitz da Polícia Rodoviária Federal (PRF) no Nordeste. “Não conheço esse funcionário”, insistiu.
Sobre sua viagem aos Estados Unidos, dois dias antes dos ataques de 8 de janeiro, quando era secretário de Segurança do DF, Torres afirmou que as passagens foram compradas em novembro de 2022 e que a viagem era uma promessa familiar. “Minha equipe não relatou problemas”, disse, apesar do evidente fracasso no planejamento de segurança.
Alexandre de Moraes, relator do processo, destacou contradições nas falas de Torres, especialmente sobre sua participação na live de Bolsonaro que questionava as urnas. “Nunca questionei a lisura do processo”, insistiu o ex-ministro, em discordância com seu histórico de declarações.