Investigação mira Masp após venda dos cavaletes de Lina Bo Bardi

Atualizado em 15 de junho de 2025 às 11:42
A fachada do Masp e alguns dos cavaletes de Lina Bo Bardi. Fotomontagem: Reprodução

A comercialização de cerca de 20 cavaletes originais da arquiteta Lina Bo Bardi, feita pelo Museu de Arte de São Paulo (Masp), está sendo investigada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). A apuração começou após o órgão federal afirmar que não foi comunicado sobre as vendas, apesar do tombamento do museu e de seu acervo.

As transações ocorreram ao longo dos últimos três anos e tiveram início em 2022, como uma alternativa encontrada pelo museu para levantar recursos diante das dificuldades financeiras impostas pela pandemia. Os cavaletes, criados entre 1968 e 1996, foram oferecidos por R$ 75 mil cada. Cinco deles ainda estão disponíveis na loja do próprio museu.

O Masp declarou que as peças estavam comprometidas por conta da fragilidade do material, e não atendiam mais aos padrões museológicos atuais. Por isso, réplicas foram produzidas em 2015 com base no projeto original de Bo Bardi. A instituição alega que a substituição visa preservar o conceito original da arquiteta, mesmo com a mudança física das peças.

As vendas começaram entre patronos do museu e depois foram abertas ao público geral. Para a administração do Masp, o tombamento se refere ao conjunto da obra de Bo Bardi, como ideia museológica, e não a cada cavalete individualmente.

Lina Bo Bardi, que foi autora do projeto de construção do MASP. Foto: Bob Wolfenson/Cortesia Instituto Bardi

Em nota, o Iphan afirmou que a comercialização de acervos tombados privados não é proibida, mas deve obrigatoriamente ser comunicada ao órgão. Por esse motivo, foi instaurado um processo administrativo em 5 de junho para apurar a atual situação das peças vendidas.

O museu, por sua vez, sustenta que agiu dentro da legalidade, que respeitou os marcos da preservação patrimonial e reforçou seu compromisso com a transparência administrativa. A instituição também defendeu que sua atuação equilibra a valorização histórica com as necessidades práticas da curadoria contemporânea.

Ainda segundo o Masp, o parecer do Iphan reconhece o valor dos cavaletes como parte de um conceito museológico, e não como objetos tombados de maneira individual. Com isso, entende-se que a reposição das peças por réplicas não compromete a proposta expositiva idealizada por Bo Bardi.

Lindiane Seno
Lindiane é advogada e moderadora das lives no DCM.