
Montanhistas brasileiros afirmam que uma série de falhas graves pode ter contribuído para a morte da publicitária Juliana Marins, de 26 anos, durante uma trilha no Monte Rinjani, na Indonésia. O caso ganhou repercussão após a jovem ser encontrada morta, dias após se perder sozinha em uma trilha de alto grau de dificuldade, sem os equipamentos adequados.
Segundo especialistas, o grupo com o qual Juliana caminhava deveria ter adotado protocolos básicos de segurança. Entre os erros apontados estão a ausência de um guia de retaguarda — responsável por acompanhar os últimos da fila — e a falta de itens essenciais como manta térmica, rastreador, agasalhos apropriados e kit de emergência.
“É inadmissível que uma pessoa seja deixada para trás, especialmente em uma trilha considerada difícil pelo próprio parque”, afirmou Adilson Teixeira da Silva, fundador do Clube de Aventura Atma. “Sem um guia de retaguarda, ninguém consegue agir rápido em caso de queda ou desaparecimento.”
A temperatura na região pode atingir -4 °C, e o terreno é conhecido por ser escorregadio e com ventos fortes que dificultam o uso de helicópteros. Fotos tiradas por turistas espanhóis com drone ajudaram a localizar o corpo de Juliana. Montanhistas ouvidos pela imprensa criticam a ausência de drones de carga e imagem entre os recursos das equipes de resgate.

Rodrigo Rodriguez, outro montanhista experiente, destaca que faltou um plano de resgate acionado ainda nas primeiras horas após o desaparecimento. Para ele, também houve falhas de comunicação entre os guias, autoridades locais, família da vítima e diplomatas brasileiros. “Sem isso, tudo ficou mais demorado e confuso”, afirmou.
A tragédia também reacende o debate sobre a explosão do turismo de aventura desde a pandemia de Covid-19, que atraiu muitos viajantes sem preparo técnico. “Há uma glamorização equivocada da prática. Subir uma montanha exige preparo físico, orientação, conhecimento e estrutura. Não é apenas colocar uma mochila nas costas”, alertou Davi Ribeiro, montanhista e guia de expedições.
Segundo a BBC, nos últimos cinco anos já ocorreram seis mortes no Monte Rinjani. A trilha não possui cabos de segurança nem estrutura mínima para emergências. Montanhistas locais, liderados por Agam Rinjani, participaram voluntariamente das buscas. A atuação improvisada e sem recursos oficiais foi decisiva para localizar Juliana.
Especialistas afirmam que o caso expõe uma negligência generalizada, comum em países que incentivam o turismo de aventura, mas não fiscalizam a qualificação de seus guias. “Sem formação adequada, muitos se arriscam a levar grupos e expõem vidas humanas a situações evitáveis”, conclui Ribeiro.