Lula mira taxação dos mais ricos e fim da escala 6×1 para retomar apoio das bases populares

Atualizado em 26 de junho de 2025 às 10:42
O presidente Lula (PT). Foto: Reprodução

Em meio ao desgaste de popularidade e ao aumento da pressão no Congresso, o governo Lula (PT) elabora uma nova estratégia de comunicação, conforme informações do Globo. A aposta é resgatar o discurso histórico da esquerda, com foco no combate às desigualdades, para reconectar o presidente com suas bases populares.

Entre as bandeiras estão o fim da jornada de trabalho 6×1, a taxação dos super-ricos e o combate aos supersalários no serviço público.

A avaliação do núcleo político do Planalto é que a defesa da democracia perdeu apelo desde a tentativa de golpe em 8 de janeiro de 2023. Agora, a meta é aproximar o governo das demandas concretas da população.

“O Lula sempre foi um presidente que olhou para o povo trabalhador, o povo mais pobre. Estamos dando um passo além nessa agenda nossa, que é falar dessa profunda desigualdade tributária, em que os ricos praticamente não pagam impostos enquanto a classe média e os pobres estão atolados”, disse o líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (RJ).

“Chegou a hora de ter nitidez política. Estou convencido de que, para este período agora, que antecipa o processo eleitoral, essa é a posição do presidente Lula e a posição que nós vamos assumir.”

Justiça tributária

A equipe econômica prepara uma proposta de reforma no Imposto de Renda para elevar a isenção até R$ 5 mil, compensando a mudança com a taxação de quem ganha mais de R$ 600 mil por ano.

A medida tem respaldo popular: pesquisa Datafolha aponta que 76% dos brasileiros apoiam cobrar mais de quem ganha acima de R$ 50 mil por mês.

Fim da escala 6×1

Outra frente é a revisão da jornada 6×1. Em pronunciamento no Dia do Trabalho, Lula defendeu um novo equilíbrio entre trabalho e bem-estar.

“Nós vamos aprofundar o debate sobre a redução da jornada de trabalho vigente no país, em que o trabalhador e a trabalhadora passam seis dias no serviço e têm apenas um dia de descanso. A chamada jornada 6 por 1. Está na hora de o Brasil dar esse passo, ouvindo todos os setores da sociedade, para permitir um equilíbrio entre a vida profissional e o bem-estar de trabalhadores e trabalhadoras”, disse o presidente.

Apesar da proposta da deputada Erika Hilton (PSOL-SP), que já tramita no Congresso, o Planalto ainda não oficializou apoio ao projeto.

Lula diz que atitude do governo dos EUA com Erika Hilton é abominável | Agência Brasil
A deputada Erika Hilton (PSOL-SP) ao lado do presidente Lula (PT). Foto: Reprodução

Supersalários e energia na mira do Planalto

O governo também estuda impulsionar uma proposta para cortar supersalários no serviço público. Um projeto parado na CCJ do Senado pode ser reaproveitado com aval do Executivo, caso não haja consenso para apresentar um novo texto.

Além disso, o Planalto quer intensificar a responsabilização do Congresso por medidas que impactam negativamente os consumidores.

Uma das pautas é a reversão de vetos presidenciais que, segundo o governo, devem gerar R$ 35 bilhões em custos adicionais nas tarifas de energia ao longo de 15 anos. A decisão favoreceu termelétricas ineficientes e foi aprovada por deputados e senadores.

Para assessores de Lula, adotar essas pautas pode ajudar a consolidar uma marca para seu terceiro mandato, focada em justiça social e enfrentamento a privilégios, em contraste com os períodos anteriores, marcados pela expansão da renda e redução da pobreza.