Herói de guerra é forçado a deixar os EUA após 50 anos no país

Atualizado em 27 de junho de 2025 às 9:15
Sae Joon Park, veterano condecorado nos EUA que precisou se ‘autodeportar’ para a Coreia do Sul — Foto: Reprodução/Facebook

Veterano condecorado do Exército dos Estados Unidos, o sul-coreano Sae Joon Park, de 55 anos, foi forçado a se “autodeportar” para a Coreia do Sul após quase cinco décadas vivendo legalmente nos EUA. Park possuía green card desde a infância e recebeu o Coração Púrpura, uma das maiores honrarias militares do país, após ser ferido em combate no Panamá. Mesmo assim, tornou-se alvo de deportação durante a gestão de Donald Trump, por conta de problemas relacionados à dependência química e transtornos mentais adquiridos após o serviço militar.

O caso ganhou repercussão após Park relatar sua história à National Public Radio (NPR), pouco antes de embarcar do Havaí para Seul, na última segunda-feira. “Isso me destrói. Não consigo acreditar que está acontecendo na América, um país pelo qual eu lutei”, disse. A deportação não foi compulsória, mas ele foi intimado a deixar voluntariamente o país, sob risco de detenção e expulsão forçada pelo Serviço de Imigração e Alfândega dos EUA (ICE).

Park chegou aos EUA aos sete anos de idade e se alistou no Exército após concluir o ensino médio. Serviu na Operação Just Cause, que resultou na queda do ditador panamenho Manuel Noriega em 1989. Durante um confronto com tropas panamenhas, foi atingido por tiros nas costas. Após retornar aos EUA, foi dispensado com honra, recebeu tratamento e iniciou uma nova vida no Havaí, onde criou seus dois filhos.

No entanto, as sequelas psicológicas do conflito se tornaram insuportáveis. Diagnosticado com transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), Park desenvolveu um vício em crack. Em 2009, foi preso ao tentar comprar a droga em Nova York. Com medo de ser reprovado em exames toxicológicos, não compareceu a uma audiência judicial, o que impediu sua naturalização como cidadão americano — um benefício que poderia tê-lo protegido da deportação.

Sae Joon Park durante o serviço militar — Foto: Reprodução

Um juiz determinou sua deportação, mas Park permaneceu nos EUA mediante apresentação periódica ao ICE. A situação se manteve estável até junho deste ano, quando foi notificado de que teria que sair do país imediatamente ou seria preso. Sem outra opção, optou por deixar os filhos, os amigos e a mãe idosa, diagnosticada com demência, para trás.

“Ela meio que nem sabe direito o que está acontecendo”, disse Park, emocionado, no aeroporto de Honolulu. “Eu não vou estar no funeral dela, nem no casamento da minha filha.” O aeroporto leva o nome de Daniel K. Inouye, um veterano nipo-americano da Segunda Guerra Mundial, cuja família foi enviada a campos de concentração nos EUA durante o conflito.

O ICE justificou a ordem de deportação em nota oficial, afirmando que Park tem condenações por porte e venda de arma perigosa, agressão e posse de substância controlada. A porta-voz do Departamento de Segurança Interna, Tricia McLaughlin, declarou que, “se você vier ao nosso país e quebrar nossas leis, vamos encontrá-lo, prendê-lo e deportá-lo”.

Park, apesar do trauma e das críticas ao processo, declarou sentir-se grato por ter servido nas Forças Armadas e por ter podido sair voluntariamente. Ainda assim, considerou o tratamento que recebeu das autoridades imigratórias como “injusto”. Ele agora tenta recomeçar a vida na Coreia do Sul, país onde não vive desde a infância.

O caso reacende o debate sobre as consequências das políticas anti-imigração impulsionadas por Donald Trump e revela as lacunas no amparo a veteranos estrangeiros. Mesmo com décadas de residência legal e histórico militar exemplar, Park foi tratado como imigrante indesejável, evidenciando os limites da promessa americana de reconhecimento a quem serviu ao país.