
Quando Matt, filho de Peter Listro, percebeu que a morte de seu pai era iminente, o impacto foi tão forte que ele sentiu fisicamente a dor da perda. Aos 39 anos, Matt havia sempre imaginado seu pai sorrindo no seu casamento e se perguntava que tipo de avô ele seria. Para amenizar o luto e preservar a memória de Peter, Matt convenceu o pai a criar um avatar digital com a empresa StoryFile, que permitiria futuras conversas com ele.
Essa iniciativa faz parte do crescente campo conhecido como “Grief Tech” (“Tecnologia do Luto”, em tradução livre), usada para ajudar as pessoas a lidar com a perda. As opções variam desde chatbots baseados nas comunicações de uma pessoa falecida até programas de realidade virtual que criam avatares 3D de entes queridos — uma presença notavelmente realista. A família Listro optou por algo mais simples: a StoryFile criaria um avatar de Peter que pudesse interagir com a família por meio de uma tela, como se estivessem conversando por Zoom.
No dia da gravação, Peter se sentou em uma cadeira confortável na sala de estar de sua casa, com as pernas cruzadas e meias pretas com bolinhas brancas visíveis. Seu corpo estava mais magro devido aos 72 dias no hospital e à perda de peso provocada pelo tratamento contra o câncer, mas ele ainda parecia elegante. Joan, sua esposa há 30 anos, ajustou seu cinto, que estava torto, e Peter fez uma piada sobre sua mortalidade, dizendo: “É um bom cinto”. Joan, no entanto, demonstrou desconforto com a situação.
Segundo relata o New York Times, Peter não decidiu participar do projeto por desejo de posteridade, mas para trazer algum conforto a Matt e Joan. Durante a gravação, o produtor pediu a Peter que repetisse algumas frases padrão, como “Diga ‘olá'” e “Diga ‘oi'”. A fala de Peter, ao pronunciar essas palavras, soou estranha, como se ele estivesse se preparando para se tornar uma versão futurista de si mesmo. Ao longo da gravação, ele foi questionado sobre suas memórias e reflexões, como a sua lembrança favorita de infância, o que diria a Matt quando ele conhecesse o marido e o que falaria no nascimento do primeiro filho de Matt.
Peter ficou emocionado ao relembrar momentos importantes de sua vida. Ao falar sobre Matt, ele se emocionou: “Ele é o melhor filho”, disse, enxugando os olhos com um lenço. Durante as gravações, também compartilhou momentos dolorosos de sua infância, como a angústia por ter uma irmã com deficiência cognitiva severa, que foi institucionalizada. “Eu tentei”, disse Peter, visivelmente abalado.
Peter passou mais de cinco horas respondendo perguntas, fazendo pequenas pausas para comer. Embora cansado, ele se sentiu aliviado por poder deixar mensagens de encorajamento para sua família, como o desejo de que Joan seguisse em frente e fosse forte após sua morte.
Uma semana depois, Matt acessou o link fornecido pela StoryFile com material interativo preliminar. Lá estava seu pai, novamente com as meias de bolinhas brancas e o cinto ajustado por Joan. Ao pressionar o botão de “falar”, Peter parecia dar uma leve encorajada a Matt, como se o incentivasse a continuar a conversa.
A StoryFile, que já trabalhou com diversas fundações e museus, agora também atende a clientes individuais. A empresa planeja lançar no futuro um aplicativo de inteligência artificial generativa, permitindo que os clientes criem avatares que respondem a perguntas não previstas durante a gravação, com base em dados como e-mails e postagens em redes sociais.
Embora Matt e Joan tenham optado por um avatar de Peter que responderia apenas às perguntas feitas enquanto ele estava vivo, a experiência trouxe algum consolo. “Não vai mudar a realidade de que perdi meu pai”, disse Matt. “Mas diminui um pouco o impacto, sabendo que, quando ele morrer, não será a última vez que terei uma conversa com ele.”
Ao assistir a uma gravação, Matt fez uma pergunta simples: “Por que você sempre diz ‘continue em frente’?” Peter respondeu com clareza, dizendo que era importante para o crescimento pessoal. Mas quando Matt perguntou sobre uma memória específica, viu seu pai no vídeo se emocionar, lembrando da dor de momentos passados. O fato de o avatar ser tão realista, mas ainda assim um reflexo digital, trouxe à tona a diferença entre o que era uma simulação e a verdadeira presença de seu pai.
Em algumas respostas, o sistema de áudio falhou, e a reação de Peter foi uma resposta automática, o que trouxe de volta a dura realidade de que ele não poderia mais fazer novas perguntas a seu pai. “Eu queria poder oferecer a ele um copo de água”, disse Matt, sentindo a distância entre o que estava vendo e a saudade que ainda sentia.