
Em tempos de internet, redes sociais e uma mídia cada vez mais distante da “voz rouca das ruas”, George Orwell, escritor do clássico iconoclasta 1984, fala sobre liberdade, mídia, política e desigualdade social. É mais um capítulo de nossa série de “Conversas com Escritores Mortos”.
Mr. Orwell, certamente o senhor tem consciência da importância do seu legado literário. Qual sua impressão sobre isso?
Quando se diz que um escritor está na moda, isso quer dizer que ele é admirado por menores de trinta anos.
Belo início de conversa… Mas o senhor há de convir que muitos dos seus leitores têm mais idade que isso. Qual o segredo de tanto sucesso?
Os melhores livros são os que nos contam aquilo que já sabíamos.
Não deixa de ser verdade. Mas, e se esta afirmação fosse aplicada à imprensa, sobretudo ao jornalismo hodierno?
Jornalismo de verdade é publicar aquilo que alguém não quer que se publique. Todo o resto é publicidade. E publicidade não é mais do que o ruído de um pau a bater na caldeira.
Mas o que acontece é justamente o contrário…
Entendo que numa época de mentiras universais, dizer a verdade é um ato revolucionário. Infelizmente o que vemos é que a massa mantém a marca, a marca mantém a mídia e a mídia controla a massa.
Isso soa um tanto opressor e sinistro. É como se não houvesse esperança de liberdade. Falando sobre isso – liberdade – é possível “estar” livre?
Os sentimentos elevados vencem sempre no final; os líderes que oferecem sangue, trabalho, lágrimas e suor conseguem sempre mais dos seus seguidores do que aqueles que oferecem segurança e diversão. Além do mais, se a liberdade significar alguma coisa, será, sobretudo, o direito de dizer às outras pessoas o que elas não querem ouvir.
Mas a impressão que se tem é que somos circundados por uma sensação de controle total. Como é possível livrar-se disso?
Sobre isso um aspecto serve de alento: podem desnudar, nos mínimos detalhes, tudo quanto você tem feito, dito ou pensado; mas o imo do coração, cujo funcionamento é um mistério para o próprio indivíduo, continuará inexpugnável.
Em sua opinião, qual seria a causa de tanta desigualdade social?
Todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais do que outros. O problema é que alguns poucos descobriram que quem controla o passado, controla o futuro; quem controla o presente, controla o passado.
Interessante… isso que o senhor disse me fez pensar na forma de política de dominação praticada pelos Estados Unidos. Por falar em pensamento político, algo a dizer?
A linguagem política destina-se a fazer com que a mentira soe como verdade e o crime se torne respeitável, bem como a imprimir ao vento uma aparência de solidez.
Concluindo nossa entrevista, o senhor acredita que possa existir uma solução para a abjeta teoria de vencedores e vencidos, tão comum na política americana?
Para isso basta retirar-se da cena o Homem e a causa principal da fome e da sobrecarga de trabalho desaparecerá para sempre.