
Leonardo Samakoto, colunista do UOL, escreveu sobre a micareta bolsonarista deste domingo, 29, na avenida paulista:
Um ato em defesa de Jair Bolsonaro (PL), que está sendo julgado por tentativa de golpe de Estado, reuniu 12,4 mil pessoas, hoje, na avenida Paulista. Críticas e ataques ao Supremo Tribunal Federal e ao ministro Alexandre de Moraes, relator do caso, também estiveram na pauta de seus aliados no trio elétrico e entre os manifestantes.
Os números são do Monitor do Debate Político do Cebrap e da Universidade de São Paulo junto com a ONG More in Common. A contagem foi feita no pico da manifestação, às 15h40, a partir de fotos aéreas analisadas com software de inteligência artificial.
O número é menor que os 44,9 mil que estiveram presentes no ato de 7 de abril deste ano, na mesma avenida Paulista. E muito menor que os 185 mil do ato de 25 de fevereiro de 2024. Ou seja, o ato de hoje foi 28% daquele realizado em abril e 7% daquele de pouco mais de um ano atrás.
“A manifestação atraiu uma multidão pequena, com números semelhantes aos que vimos na penúltima manifestação, em março, em Copacabana (18,3 mil). De novo, observamos um processo de convocação menos intenso nas mídias sociais e uma data que coincide com o calendário esportivo, com a Copa do Mundo de Clubes”, afirma Pablo Ortellado, professor de políticas públicas da USP e um dos coordenadores do levantamento. “Apesar disso, o número é tão menor do que aquele que contamos em abril (44,9 mil) que é difícil não especular que a pauta da anistia tenha esfriado junto à militância.”
Antes do ato, o pastor Silas Malafaia, organizador do evento, antecipou-se às críticas, ponderando que tamanho não é documento. “Estamos aqui para marcar posição. É menos importante o número do que eu vou dizer aqui”, disse à colunista do UOL Letícia Casado.
A 29ª edição da Parada do Orgulho LGBT+, realizada no domingo passado, na mesma avenida Paulista, sob o tema “Envelhecer LGBT+: Memória, Resistência e Futuro”, reuniu 48,7 mil, de acordo com contagem do Monitor do Debate Político no meu momento de maior concentração às 13h58. A anistia de Bolsonaro perdeu para o público LGBT+.
O ato contou com o presidenciável e governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e deputados federais, como Gustavo Gayer (PL-GO) e Sóstenes Cavalcanti (PL-RJ).

O último ato convocado em São Paulo por movimentos sociais de esquerda contra a anistia, pela prisão de Jair Bolsonaro e em memória dos 61 anos do golpe militar de 31 de março de 1964 reuniu 6,6 mil pessoas, no dia 30 de março, na avenida Paulista. Todos os números são do Monitor do Debate Político.
Em outras ocasiões, o foco era a aprovação de um projeto de anistia no Congresso Nacional que beneficiaria quem participou de atos golpistas entre outubro de 2022 e 8 de janeiro de 2023, o que beneficiaria o ex-presidente. Como a pauta, impopular, esfriou no parlamento, as atenções dos bolsonaristas se voltaram ao julgamento, que encerrou sua fase de instrução para o grupo de réus do qual Jair faz parte.
A oposição diz que já têm votos suficientes para aprovar a anistia na Câmara dos Deputados, mas não conseguiu votar a urgência da matéria, o que faria com que fosse analisada diretamente no plenário sem a necessidade de passar pelo debate em comissões. Bolsonaro conta com a pressão de seus seguidores nas ruas para acelerar o trâmite do PL.
Vale lembrar que, mesmo se o Congresso aprovar a proposta e, depois, derrubar o provável veto do presidente Lula, e a Procuradoria-Geral da República e o Supremo Tribunal Federal não questionarem a constitucionalidade desse perdão, ainda Bolsonaro vai precisar transpor outra barreira para estar nas urnas eletrônicas em 2026.
Ele está inelegível até 2030 por causa de duas condenações do Tribunal Superior Eleitoral por abuso de poder. Então, terá que torcer por uma mudança na Lei da Ficha Limpa que diminua a punição a políticos.
Pesquisa Genial/Quaest aponta que 56% dos brasileiros é contra a anistia dos envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023, preferindo que continuem presos e cumpram suas penas. A margem de erro é de dois pontos, e o índice de confiança de 95%. Apenas 18% acham que os envolvidos deveriam ser soltos porque nem deveriam ter sido presos.
Considerando apenas os que escolheram Bolsonaro em 2022 (que ficou com 49,1% dos votos), só 36% (ou seja, cerca de um terço dessa metade) defendem, segundo a Quaest, a posição de que os presos pelo 8 de janeiro deveriam ser soltos porque a prisão foi injusta. Outros 32% dos eleitores de Bolsonaro querem que os presos continuem na cadeia e cumpram suas penas e outros 25% acham que eles cometeram crimes sim, mas já podem ser soltos porque já ficaram tempo demais.