A arrogância da velha Economist ao querer “disciplinar” o Brasil

Atualizado em 29 de junho de 2025 às 21:55
Matéria da Economist criticando Lula

A Economist, mais uma vez, tenta se posicionar como o farol do conhecimento universal, mas o artigo sobre o presidente Lula é um exemplo claro de arrogância que busca colocar o Brasil em seu “devido lugar” no cenário internacional.

Ao afirmar que “Lula está perdendo poder no exterior e é impopular em casa”, a revista não só falha em entender a realidade política brasileira, como também reforça a velha narrativa de que potências emergentes não têm o direito de se posicionar com autonomia em questões internacionais.

A revista acusa Lula de não se adaptar a um mundo “transformado”, ignorando completamente a complexidade das relações internacionais no século 21. Em vez de reconhecer o papel do Brasil na diplomacia mundial, a velha Economist tenta reduzir a atuação de Lula a uma política simplista e antiquada, como se o Brasil não tivesse o direito de expressar sua posição, especialmente em um contexto de tensões geopolíticas. Não devemos sair do quintal, dizem eles.

A condenação das ações dos Estados Unidos no Irã, por exemplo, é vista como uma afronta, quando na verdade o Brasil está apenas cumprindo seu papel como um ator internacional que defende a soberania dos países e o respeito ao direito internacional.

A atitude de “disciplinar” paíse é uma característica constante de análises vindas da velha guarda globalista. O que esses argumentos procuram, em última instância, é reforçar a ideia de que apenas as grandes potências têm direito à palavra, enquanto os países em desenvolvimento devem se contentar com papéis secundários e ser excluídos das grandes decisões.

O Brasil, segundo essa lógica, não tem o direito de se envolver em grandes conflitos internacionais, pois não possui “poder suficiente”. Contudo, tal raciocínio ignora o papel fundamental do Brasil no combate às mudanças climáticas, na promoção dos direitos humanos ou na busca por uma ordem internacional mais equilibrada, entre outros temas.

A Economist afirma que Lula não fez “nenhum esforço para estreitar os laços com os Estados Unidos desde a posse de Donald Trump, em janeiro de 2025”. O artigo ressalta que, em vez disso, Lula tem buscado fortalecer sua relação com a China, mencionando que ele se reuniu duas vezes com o presidente Xi Jinping no ano passado. Além disso, destaca a preferência do presdente por estreitar laços com países da Europa e da Ásia.

Lula também não fez “nenhum esforço para estreitar laços com os Estados Unidos desde que Donald Trump assumiu o poder”, em janeiro de 2025.

Sim, é exatamente disso que se trata: Lula procura outras alianças numa nova ordem, diversa do universo em escombros em que a Economist navega.

O Conselho de Segurança da ONU com poder de veto, o Tratado de Não Proliferação Nuclear e as cotas das instituições de Bretton Woods são exemplos claros de mecanismos que visam reforçar esse “condomínio das grandes potências”, que trata os países emergentes como meros observadores em vez de líderes potenciais.

É curioso que a Economist critique a postura de Lula, um líder que, durante sua primeira presidência, colocou o Brasil no mapa internacional e trabalhou incansavelmente para transformar o país em um protagonista global. Não podemos esquecer que o Reino Unido, de onde vem a Economist, está em uma situação bem diferente, em decadência há quase um século, embora a revista insista em passar uma imagem de potência global. A Inglaterra é um poodle dos EUA.

Mas, claro, quando a conveniência política se sobrepõe à análise dos fatos, é mais fácil continuar afirmando que o Brasil e outras potências emergentes devem saber “qual é o seu lugar”.

Kiko Nogueira
Diretor do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.