Entenda a morte de soldado que foi divulgada como suicídio por militares

Atualizado em 30 de junho de 2025 às 14:53
O soldado Wenderson Nunes Otávio, de 22 anos. Foto: Reprodução

A morte do soldado Wenderson Nunes Otávio, de 22 anos, no dia 15 de janeiro deste ano, foi inicialmente divulgada pelo Exército como um suicídio. Uma investigação do Ministério Público Militar (MPM), no entanto, revelou uma versão completamente diferente.

Segundo as apurações, Wenderson foi vítima de homicídio, e a versão oficial sobre sua morte foi forjada para encobrir o crime. A tragédia ocorreu no 26º Batalhão de Infantaria Paraquedista, no Rio de Janeiro, e envolveu outros militares, incluindo o ex-soldado Jonas Gomes Figueira e o sargento Alessandro dos Reis Monteiro.

De acordo com as investigações, Figueira, que tinha o hábito de brincar com armas dentro do alojamento, foi o responsável pelo disparo que tirou a vida de Wenderson. O ex-soldado apontou uma pistola para a cabeça do colega, acreditando que a arma estava descarregada.

Ele tinha o hábito de “brincar com a arma de fogo vazia, sempre a apontando para seus colegas de farda, dando golpe de segurança e acionando o gatilho, com a intenção de provocar susto”, de acordo com a denúncia do MP militar.

O tiro foi disparado enquanto Wenderson calçava o coturno, o que impediu qualquer reação por parte da vítima. Após o disparo, Figueira, desesperado, começou a chorar e a admitir que havia matado o amigo. O Exército se apressou em divulgar a versão de suicídio, afirmando que Wenderson havia enfrentado problemas emocionais, incluindo dificuldades com a namorada.

Apuração mostrou que Wenderson foi morto enquanto calçava coturno. Foto: Reprodução/TV Globo

Familiares da vítima e testemunhas rapidamente contestaram essa versão. A namorada de Wenderson e seus colegas de alojamento afirmaram que ele estava bem no dia da tragédia, desmentindo a alegação de problemas pessoais que teriam levado ao suicídio. A perícia também não encontrou qualquer indício que comprovasse que o soldado havia disparado a arma ou que o tiro tivesse sido de perto, como seria esperado em um suicídio.

A investigação revelou que o sargento Alessandro dos Reis Monteiro, responsável pela supervisão no alojamento, falhou em cumprir suas obrigações e não fiscalizou a entrada da arma no local, o que é contra as normas militares. A omissão foi considerada como conivência com o comportamento imprudente de Figueira, e ele também foi indiciado por “condescendência criminosa”.

A Procuradoria de Justiça Militar apresentou as acusações contra Figueira por homicídio qualificado, com as agravantes de motivo fútil e o uso de uma arma que dificultou a defesa de Wenderson.

Os pais de Wenderson, Adilson e Cristiana, buscaram justiça para o filho, e a denúncia do Ministério Público trouxe um alívio ao casal, embora a dor da perda ainda seja profunda. “Quero que eles falem a verdade, o que aconteceu com meu filho, quem fez isso com meu filho”, disse o pai.

Bala entrou pela diagonal do crânio da vítima, segundo a denúncia. Foto: Reprodução/TV Globo

A investigação também revelou que o comandante do batalhão, Douglas Santos Leite, havia orientado os militares a manterem silêncio sobre o caso e impôs uma versão oficial para acobertar o ocorrido.

Após a denúncia, Jonas Figueira e o sargento Alessandro foram formalmente acusados, e a defesa de Figueira nega a responsabilidade, afirmando que ele não manuseou a arma no momento do crime. Outras testemunhas e provas coletadas durante a investigação contradizem essa alegação.

O Ministério Público argumenta que a versão de suicídio foi criada de maneira deliberada para proteger os responsáveis pelo homicídio de Wenderson e encobrir a verdade. A perícia concluiu que o disparo foi feito de uma distância superior a um metro, contrariando a tese de suicídio, e as provas encontradas não indicaram a presença de pólvora nas mãos de Wenderson nem nos outros militares presentes.