
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva embarca nesta quarta-feira (2) para Buenos Aires com o objetivo de conter os danos políticos causados pela gestão de Javier Milei no Mercosul e anunciar o encerramento das negociações de um acordo comercial com a Associação Europeia de Livre Comércio (EFTA).
A expectativa é que o entendimento com o bloco europeu, que inclui Suíça, Noruega, Islândia e Liechtenstein, seja oficialmente anunciado durante a cúpula do Mercosul. Foram sete anos de negociações e 14 rodadas de discussão entre os blocos.
Entre os pontos mais sensíveis resolvidos na última semana estão as regras de origem de produtos e questões envolvendo patentes de medicamentos, com destaque para a Suíça, maior exportadora de produtos farmacêuticos para a região.
A cúpula também marcará o início da presidência temporária do Brasil no bloco, que pretende defender uma pauta mais integradora e social. Além do acordo com a EFTA, o Brasil continuará tentando aprovar o acordo com a União Europeia ainda em 2025, apesar das resistências da França.
A estratégia do governo brasileiro é distanciar-se do viés ideológico de Milei e retomar o protagonismo diplomático do bloco. O Planalto avalia que a presidência de Milei foi marcada por desinteresse e sabotagens à unidade regional, como sua tentativa de negociar individualmente com os Estados Unidos e de esvaziar as instituições sociais do Mercosul. A nova agenda brasileira inclui reuniões sobre gênero, raça, direitos indígenas e clima, temas que Milei vetou em outras ocasiões.

Durante a cúpula, será formalizada a ampliação da Lista de Exceções à Tarifa Externa Comum (Letec), com liberação de 50 novos códigos tarifários por país.
Essa concessão do Brasil atende a um pleito argentino, mas dentro de parâmetros regulados para proteger setores sensíveis da indústria. O objetivo é evitar que o bloco perca unidade diante de pressões externas como o tarifaço anunciado pelo ex-presidente americano Donald Trump.
A diplomacia brasileira aposta em uma gestão mais equilibrada e voltada para a integração regional. Entre as prioridades estão a reativação do Instituto Social do Mercosul e do Instituto de Políticas Públicas em Direitos Humanos, alvos de cortes por Milei.
O Itamaraty também quer avançar em temas como segurança pública e combate a facções criminosas, sem aderir à narrativa do terrorismo, e defender os setores automotivo e sucroalcooleiro nos acordos comerciais.
Apesar dos impasses recentes, o governo Lula busca apresentar a cúpula como um marco para a retomada do espírito integrador do Mercosul.
O Itamaraty aposta que a presidência brasileira pode recuperar a credibilidade do bloco e neutralizar os impactos do radicalismo ideológico de Milei, reforçando o papel do Brasil como líder regional e articulador de consensos.