Justiça dos EUA manda Argentina entregar estatal de petróleo; prejuízo é de US$ 16 bi

Atualizado em 3 de julho de 2025 às 13:22
Javier Milei, presidente da Argentina, com macacão da YPF. Foto: reprodução

O tribunal federal de Manhattan ordenou, na última segunda-feira (30), que a Argentina transfira sua participação de 51% na petrolífera YPF para cobrir parte de uma dívida de US$ 16,1 bilhões, em uma decisão que representa um duro golpe para o governo de Javier Milei. A juíza Loretta Preska determinou que as ações devem ser entregues ao banco BNY Mellon em 14 dias, que ficará responsável por repassá-las aos credores.

O presidente argentino reagiu imediatamente nas redes sociais, atribuindo a responsabilidade pelo caso à gestão da ex-presidente Cristina Kirchner e ao ex-ministro da Economia Axel Kicillof.

“Independentemente da questão de fundo, ter chegado a esta situação do país é responsabilidade direta do inútil soviético de Axel Kicillof”, escreveu Milei no X, prometendo recorrer da decisão “em todas as instâncias que corresponda para defender os interesses nacionais”.

Economistas alertam para as consequências da medida. Alejandro Kowalzuk, em entrevista à Rádio CNN Argentina, classificou a decisão como um “cisne negro” para o país. “Isso não será gratuito para nós, porque é um processo de US$ 16 bilhões e, com essa participação de 51%, vocês não conseguirão cobrir o valor total”, afirmou.

O especialista destacou que a Argentina se encontra em uma posição delicada: “Ou você tem que cumprir esta decisão ou recorrer, e em ambos os casos, você está em uma posição perdedora”.

A decisão já impactou o mercado financeiro argentino, afetando não apenas as ações da YPF, mas também outros papéis. Kowalzuk, no entanto, manteve certo otimismo sobre a economia local: “O crescimento econômico está muito bom. Com essa recuperação de 1,9%, estamos quase no mesmo nível do índice de fevereiro”. Ele projetou ainda uma inflação entre 1,8% e 2% para junho.

Entenda o caso

O litígio remonta a 2012, quando a Argentina expropriou a participação majoritária da espanhola Repsol na YPF sem oferecer compensação adequada aos acionistas minoritários Petersen Energia Inversora e Eton Park Capital Management. Em setembro de 2023, a juíza Preska havia condenado o país a pagar US$ 14,39 bilhões à Petersen e US$ 1,71 bilhão ao Eton Park.

A decisão chega em um momento particularmente delicado para a Argentina, que busca recompor suas reservas internacionais após fechar um acordo de US$ 20 bilhões com o FMI em abril.

O governo argentino argumentou que as ações da YPF estariam protegidas pela Lei Federal de Imunidades Soberanas Estrangeiras, mas Preska rejeitou essa tese em sua decisão de 33 páginas.